Queda de 5,2% na produção industrial mostra quem quebra o Brasil

Sete meses consecutivos de crescimento não evitaram uma queda acumulada de 5,2% de janeiro a novembro do ano passado. Desemprego segue caminho inverso e cresce, principalmente no ramo automotivo. Desinteresse da equipe econômica do desgoverno Bolsonaro por uma política industrial agrava a crise. Atraso da vacinação e teto de gastos pioram ainda mais a situação

Bolsonaro quebrou a economia do país

É como fazer o gol de honra na goleada por 7 x 1. Mesmo apresentando leve crescimento pelo sétimo mês consecutivo, o setor industrial brasileiro ainda patina no prejuízo e vê seu peso na formação do Produto Interno Bruto (PIB) nacional se reduzir a cada ano.

O Índice Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF), divulgado nesta sexta (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu 1,2% em novembro passado. Mas no acumulado do ano até novembro, o setor ainda acumula um tombo de 5,5%, ficando 13,9% abaixo do nível recorde, alcançado em maio de 2011. Em 12 meses, a queda é de 5,2%. E sobre os patamares pífios já apresentados em 2019.

No índice acumulado no ano, a produção industrial tem resultados negativos em todas as quatro grandes categorias econômicas, 20 dos 26 ramos, 59 dos 79 grupos e 63,1% dos 805 produtos pesquisados. As maiores quedas na parcial de 2020 foram registradas nas categorias de bens de consumo duráveis (-22%) e de bens de capital (-13,1%).

Segundo os analistas econômicos, uma retomada mais firme da indústria ainda depende do mercado de trabalho, que vem mostrando dificuldades, e da redução das incertezas domésticas. Entre elas, a vacinação contra a Covid-19, que permitiria uma retomada produtiva sustentável, mas tornou-se mais um imbróglio bolsonarista.

Governo refém do sistema financeiro

O atraso da vacinação mais o silêncio sobre o auxílio emergencial e a falta de política industrial, com apoio às micro, pequenas e médias empresas, empurram a sociedade para explosão social. De outro lado, a insistência em manter o “ teto de gastos” impede investimentos em todas as áreas. Com a produção em queda, o país entra 2021 apontando para novos recordes de desemprego – que já atinge mais de 14 milhões de trabalhadores.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o PIB da indústria terminará 2020 com retração de 3,5%. Para 2021, a projeção é de alta de 4,4%, acima do esperado para a economia brasileira (4%) – afinal, o parâmetro de comparação será subterrâneo.

No caso da indústria automotiva, que nos tempos dos governos do PT tornara-se “locomotiva” do crescimento econômico com geração de empregos, o tombo foi de 31,6% em 2020, apesar da alta de 11,1% em novembro. O relatório da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), também divulgado nesta sexta, apresenta o pior resultado desde 2003, quando o governo Lula começava a implementar sua política industrial.

Em 2020, a Anfavea calcula que foram produzidos 2.014.055 automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, contra 2.944.988 no ano anterior. Em 2003, haviam sido fabricados 1.684.715 exemplares. As exportações, que em anos anteriores salvaram os balanços de várias montadoras, também sofreram queda: de 24,3% em comparação com 2019.

Atraso da vacinação piora situação

Para 2021, as previsões da entidade patronal são otimistas: altas de 25% da produção, 9% das exportações e 15% dos licenciamentos. Mas Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, reconhece os obstáculos. “Nunca foi tão difícil projetar os resultados de um ano, pois temos uma neblina à nossa frente desde março, quando começou a pandemia”, explica, no release de apresentação dos resultados.

“Infelizmente, observamos uma segunda onda de Covid-19 em países do Hemisfério Norte, que parece ter chegado também ao Brasil. E sabemos que uma imunização pela vacina será um processo demorado, que tomará quase todo o ano, impedindo uma retomada mais rápida da nossa economia”, avalia o líder patronal.

“Some-se a isso a pressão de custos, as necessidades urgentes de reformas e surpresas desagradáveis como o aumento do ICMS paulista, e temos diante de nós um quadro que ainda inspira muita cautela nas nossas previsões”, resume Moraes, ressaltando que o setor entrou em 2021 com estoques suficientes apenas para 12 dias de vendas, os mais baixos da história.

Resultado lógico da onda de demissões e PDVs que varreu o ramo em 2020, o número de pessoas empregadas na indústria automotiva também caiu. Segundo a Anfavea, dezembro passado fechou com 120.538 empregados, ou queda de 4% em relação a 2019, quando houve os primeiros movimentos de desmobilização do chão de fábrica por alguns fabricantes e o quadro de funcionários fechou em 125,6 mil trabalhadores. Cinco mil a menos do que o registrado em dezembro de 2018.

Indústria perde importância

Juliane Furno, doutoranda em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e colunista do portal ‘ Brasil de Fato’, chama a atenção para a participação das atividades industriais no PIB. Ela apresenta decréscimos alternados desde os anos 1990, mas que se intensificaram a partir de 2016, quando o golpe de Aécio, Temer e Cunha afastou a presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff.

A economista responsabiliza a opção dos governos do golpe por priorizar a fabricação e venda de produtos de baixo valor agregado, como petróleo cru, laranja e soja. Na contramão, produtos com grande valor agregado, como bens duráveis, são produzidos fora do país. Quando muito, apenas a montagem final é realizada internamente, remetendo o acúmulo de valor à indústria estrangeira.

“O fato de a gente precisar importar grande parte desses bens intermediários para a fabricação do produto final aponta o quanto a gente está perdendo esses elos da cadeia produtiva industrial brasileira”, aponta Furno, para quem “isso é um atestado de desindustrialização.”

“Desde o governo Temer, e agora no governo Bolsonaro, não existe uma política industrial e um esforço em elaborar um projeto de diagnóstico de como está a indústria, quais são os gargalos e principais desafios e em criar uma política para estimular que o setor industrial tenha capacidade reconectar ou de adensar essas cadeias produtivas”, afirma a economista. Seguindo essa linha de prioridades, Brasil torna-se refém da transferência de valor para outros países, explica.

Além da desindustrialização, a retração no setor também reflete o mercado doméstico em crise, explica o professor do Departamento de Teoria Econômica da Unicamp, Marco Antonio Rocha. A queda da demanda por bens e serviços esvazia o caixa das empresas e faz os investimentos caírem, o que leva a impactos negativos sobre a produtividade das empresas.

Reforma Trabalhista do usurpador Michel Temer, em 2017, desestruturou a capacidade nacional de formar um mercado doméstico vigoroso e gerou empregos de qualidade muito baixa. “Se qualidade dos empregos gerados é muito baixa, é difícil criar mecanismos de recuperação do mercado doméstico. Esses mecanismos dependem de uma estrutura de ocupação mais sólida, estável”, afirma Rocha, para quem “o pior ainda está por vir”.

A retomada internacional das atividades industriais pós-pandemia, diz ele, acirrará os mercados concorrentes e deverá levar a guerras comerciais semelhantes aos embates entre Estados Unidos e China vistos nos últimos anos.

“Nesse cenário de aumento da concorrência internacional, a indústria brasileira está completamente incapacitada para o enfrentamento”, avalia o professor da Unicamp. “Principalmente se o país não tiver minimamente instrumentos de defesa do mercado interno, de fomento à proteção das companhias e de todo o conjunto de pequenas e médias empresas, que são importantes sobretudo na geração de emprego”, conclui.

Via PT
Da Redação, com Brasil de Fato

Com explosão do custo de vida, Bolsonaro traz a fome de volta

O IPCA-15 mostra que alimentação e bebida já acumulam alta de 5,78% de janeiro até agosto. Nesse período, o arroz já subiu mais de 16% em média, mas atingindo 20% em diversas regiões. Ao mesmo tempo, o governo reajustou o salário mínimo para 2021 em apenas 2% e reduziu o Auxílio Emergencial pela metade

Enquanto isso, para piorar a situação, o governo reajustou o salário mínimo para 2021 em cerca de apenas 2%. De acordo com o IBGE, a massa salarial dos trabalhadores brasileiros caiu 15% em um ano, o maior tombo já registrado pelo instituto em toda a série de pesquisas. Não bastasse o arrocho dos salários, o governo também reduziu o Auxílio Emergencial para R$ 300,00, metade dos R$ 600,00 inicialmente aprovados pelo Congresso.

Diante da situação, o presidente Bolsonaro se limita a fazer discursos demagógicos em lives nas redes sociais. “Estamos conversando, estou pedindo um sacrifício, um patriotismo, para os grandes donos de supermercados, para manter o preço na menor margem de lucro”, disse Bolsonaro na semana passada. Sem qualquer efeito prático, o apelo é um reconhecimento de que a situação está fora do controle.

Opção pelo agronegócio

O aumento dos preços de alimentos é resultado da opção do governo pelo agronegócio e pela monocultura, em detrimento da agricultura familiar. A política voltada apenas para os grandes proprietários limita a produção de grãos e de alimentos. A agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos consumidos no país. A consequência é  a alta no preço os produtos da cesta básica.

Em agosto, Bolsonaro vetou, quase integralmente, a proposta que prevê um auxílio financeiro aos agricultores durante a pandemia de Covid-19. O recurso seria repassado para os produtores que não receberam o auxílio emergencial. No total, seriam cinco parcelas de R$ 600, ou seja, R$ 3 mil. Os senadores do PT trabalham para derrubar o veto no Congresso Nacional.

De janeiro a julho, por exemplo, os preços do feijão fradinho, feijão preto, mulatinho e rajado, cresceram, respectivamente, 72, 64, 43 e 36 vezes acima do IPCA geral. Os do arroz, 41 vezes acima; batata 29 vezes e farinha de mandioca, 24 vezes.  A absurda elevação dos preços afasta a maioria dos produtos da mesa dos mais pobres. Depois que os governos petistas tiraram o Brasil do Mapa da Fome, Bolsonaro está trazendo a fome de volta ao país.

A inércia do governo frente ao ao abastecimento do país e ao aumento do custo de vida não se verifica em outros setores da economia, especialmente o setor financeiro. Recentemente, o ministro Paulo Guedes autorizou a transferência de R$ 325 bilhões para os bancos, em nome da instabilidade do setor. Um recurso que poderia ser melhor utilizado para investir na agricultura familiar e pagar o Auxílio Emergencial até o final do ano.

Da Redação com Brasil de Fato


Crise social avança com Bolsonaro selando pacto das elites

O país segue no caminho do desastre: desemprego recorde, dívida pública crescente e queda da economia. Ao prometer lealdade aos interesses dos bancos, o presidente corta verbas para saúde e educação

O país assistiu na noite de quarta-feira, 13 de agosto, às novas cenas de compadrio e traição nacional, com acenos do acordo de conveniência entre os interesses do mercado financeiro, a agenda conservadora de Jair Bolsonaro e a cumplicidade dos expoentes do neoliberalismo no Congresso. “Respeitamos o teto de gastos, queremos a responsabilidade fiscal e o Brasil tem como realmente ser um daqueles países que melhor reagirá à crise”, disse um patético Jair Bolsonaro, em frente ao Palácio da Alvorada, ladeado pelo ministro da Economia e a cúpula do parlamento nacional. O pacto das elites não beneficia o povo e agrava a crise.

Enquanto o presidente da República jurava lealdade a Paulo Guedes e ao neoliberalismo que corta empregos e impede investimentos, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, ambos do conservador Democratas, acenavam que a Lei do Teto dos Gastos continua intocável. Os dois parlamentares foram reiterar o apoio à agenda de reformas e de ajuste fiscal adorada por Bolsonaro e Guedes, que vem impedindo o país de crescer nos últimos quatro anos, desde o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, com a aprovação do impeachment sem crime de responsabilidade.

A seguir na toada da política fiscal suicida, o país seguirá no caminho do desastre que vive desde a posse de Michel Temer, em abril de 2016, e a eleição de Bolsonaro, em novembro de 2018, com mais desigualdade e economia em baixa. O desemprego no Brasil bateu em junho a marca de 14%, com mais de 40 milhões de brasileiros vivendo na informalidade e sem renda, enquanto a economia afunda, apesar das promessas vazias do Posto Ipiranga.

PIB deve cair 11% neste segundo semestre, o pior resultado da história do país nos últimos cem anos, de acordo com estimativas do próprio governo federal. O fraco desempenho da economia, que já vinha claudicante desde 2017, com ‘pibinhos raquíticos’ foi agravado agora pela pandemia do novo coronavírus, mas o fato é que o país insiste na política de austeridade fiscal, enquanto na Europa, na Ásia e mesmo na América do Norte, é o Estado quem emerge com força para reconduzir os países e seus povos na travessia da maior crise social e econômica desde a Grande Depressão, na terceira década do século 20.

“Ao lado de Rodrigo Maia, Bolsonaro diz que respeita a Lei do Teto dos Gastos e que tem responsabilidade fiscal. É o pacto para não ter impeachment”, denuncia a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). “O presidente negocia a vida do povo e o desenvolvimento do país pra ficar no cargo até 2022”, criticou. A parlamentar cobra mais investimentos por parte do governo, diante da piora do quadro econômico e social brasileiro, agravado pela 100 mil mortes e o aumento da pobreza e desigualdade.

Imagem: Pelicano

Cortes na educação e na saúde

“O governo usou até agora 54% do orçamento da pandemia e, dos recursos do Ministério da Saúde, pagou menos de 50% do dinheiro reservado”, aponta Gleisi Hoffmann. “A baixa execução é tão vergonhosa que gerou cobrança do Tribunal de Contas da União a partir de representação que fizemos. Há forte indício de uso das verbas da pandemia para Bolsonaro atender a sua base parlamentar”, denuncia.

Ela também criticou Bolsonaro por permitir um corte de R$ 1,4 bilhão no orçamento da educação em 2021. “É um crime e a completa destruição do ensino público”, adverte a deputada. “Escolas e universidades estão no limite e não aguentarão novos cortes. Querem a todo custo sucatear o sistema educacional para privatizá-lo. São uns urubus”.

O líder do PT no SenadoRogério Carvalho (SE), disse que o cenário trágico da pandemia é resultado direto das decisões políticas irresponsáveis de Bolsonaro, inclusive ao evitar aplicar recursos para a saúde. “O país não precisa de Estado mínimo, porque isso é o que vem experimentando nos últimos três anos”, disse.

O fato de o Brasil ser o segundo país com o maior número de mortes por Covid-19 no mundo levou o senador Humberto Costa (PT-PE) a também pesar a mão nas críticas. Ele acusou o governo de desdenhar da saúde do povo, enquanto Bolsonaro declara que quer manter o teto de gastos previsto para área da Saúde. O senador alertou que tal ação pode piorar as previsões sobre o crescimento de mortes. “A manutenção do teto dos gastos implica na redução de R$ 35 bilhões para a saúde no ano que vem”, denunciou o senador pernambucano. “Essa política de austericídio vai levar a mais mortes”.

Na Câmara, o deputado  Henrique Fontana (PT-RS) defendeu que o momento é de responsabilidade social. “O momento exige a ampliação dos investimentos públicos, porque, se nós não ampliarmos, não teremos como combater a maior recessão do século”, disse. “Aplicar a mão de ferro com o teto de gastos para o ano de 2021 é uma irresponsabilidade com o povo brasileiro, porque nós colocaremos o país numa profunda e gravíssima crise social”, protestou.

Fonte: Redação do PT



Brasil afundará na miséria, se depender de Guedes e Bolsonaro

O governo Jair Bolsonaro comete um crime contra o povo brasileiro, não apenas quando negligencia o combate à pandemia, retém recursos para a compra de equipamentos e insumos para o Sistema Único de Saúde (SUS), mas também quando retira dinheiro de programas sociais ao elaborar um projeto de renda básica que pode ampliar a miséria. O diagnóstico é de Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social do governo Dilma Rousseff.

Foto: Gabriel Paiva/Arquivo

Ex-ministra do Desenvolvimento Social, a economista Tereza Campello alerta que fim do auxílio emergencial  em setembro vai fragilizar amplas camadas da população brasileira, com mais de 40 milhões sem renda. Para evitar o desastre, PT propõe Mais Bolsa Família, um novo programa de renda básica para o pós-pandemia para atender aos trabalhadores.

O governo Jair Bolsonaro comete um crime contra o povo brasileiro, não apenas quando negligencia o combate à pandemia, retém recursos para a compra de equipamentos e insumos para o Sistema Único de Saúde (SUS), mas também quando retira dinheiro de programas sociais ao elaborar um projeto de renda básica que pode ampliar a miséria. O diagnóstico é de Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social do governo Dilma Rousseff.

A economista refuta a ideia de que o programa Renda Brasil, anunciado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) para substituir o Bolsa Família, criado em 2003 na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva e ampliado na administração de Dilma Rousseff, permitirá uma travessia segura para as camadas mais vulneráveis da população a partir de setembro. É que o governo federal deixa de pagar em dois meses o auxílio emergencial de R$ 600.

“O desmonte dos programas sociais, como o Bolsa Família, o seguro-defeso e outros, é perigoso e prejudicial ao povo”, avalia. Tereza diz que o governo só indicou até agora que vai tirar recursos dos programas existentes que estão voltados para as camadas mais vulneráveis da população. A última maldade, levada a cabo nesta quarta-feira, 29 de julho, pelo governo foi o veto de Bolsonaro ao pagamento preferencial a mães solteiras para receber o auxílio de R$ 1.200. Aprovado pelo Congresso, o projeto estendia  a pais solteiros a possibilidade de recebimento de duas cotas da ajuda de R$ 600.

Tereza Campello: “O desmonte dos programas sociais, como o Bolsa Família, o seguro-defeso e outros é perigoso e prejudicial ao povo”

Para Tereza Campello, a disposição do governo parece ser para prejudicar os pobres. O Ministério da Economia não exonde que cogita abocanhar o dinheiro do abono salarial – pago hoje a quem ganha até dois salários mínimos com carteira assinada – e do salário-família, que transfere R$ 48 por filho de até 14 anos por mês para quem ganha até 1,36 salário mínimo – para custear o Renda Brasil. Além disso, o governo quer limitar quem hoje recebe mais de um benefício social. Até o ano passado, 15,4 milhões de famílias no país recebiam o abono salarial e também o salário-família.

“Pelo que foi anunciado, o governo Bolsonaro prepara um saco de maldades para o povo”, denuncia a ex-ministra. Ela considera grave a extinção do Bolsa Família, que funciona há 17 anos, custa relativamente pouco e permitiu a construção de uma rede de proteção por funcionários do governo federal, dos estados e municípios, que integram o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Ela denuncia que o governo tem cortado inclusive os recursos para o SUAS.

Exemplo para o mundo

“Bolsonaro e Paulo Guedes cometem um erro grave, ao quererem apagar as digitais de Lula e do PT, acabando com o Bolsa Família, porque o mais importante não é autoria do projeto, mas o fato de que este é um programa social exitoso, reconhecido pelas Nações Unidas como modelo”, lamenta Tereza Campello. O programa hoje atende a 14 milhões de famílias e custa menos de 0,5% do PIB. 

A proposta que a ex-ministra defende é que o Mais Bolsa Família possa atender a 30 milhões de famílias, assegurando recursos por meio da taxação dos super-ricos, que hoje representam 0,3% da população. Outras fontes seriam incorporadas ao programa com uma reforma tributária solidária, que permitiria ao país arrecadar R$ 270 bilhões a mais por ano.

“O programa Mais Bolsa Família pode ser o vetor da saída do auxílio emergencial. Hoje, o Brasil tem o melhor, o maior em escala e mais eficiente programa de transferência de renda do mundo”, aponta. Tereza é responsável pela coordenação do programa, cujos debates foram promovidos pelo PT e que estão sendo  apresentados aos movimentos sociais e outros partidos de oposição para se transformar em um projeto de lei a ser debatido no Congresso Nacional.

Inovação e ampliação

Para a ex-ministra do Desenvolvimento Social, o Mais Bolsa Família pode se tornar um projeto mais inovador ao elevar a linha mínima do benefício pago de R$ 89 por pessoa para R$ 300. “Se o valor é muito baixo e deve atender a mais gente, podemos aumentar sua base e a linha de pagamento mínimo, até atingir a parcela da população colocada em situação de vulnerabilidade social pela perda de renda provocada pela crise econômica e agravada pela pandemia”, explica.

Tereza lembra que o decreto de calamidade pública aprovado pelo Congresso no início da pandemia, em março, termina em 31 de dezembro deste ano. A partir de janeiro, volta a vigorar o teto dos gastos públicos, que limitarão as despesas da União e impedirão a garantia de que o país ganhe novas políticas de transferência de renda. “O próprio governo tem alardeado que os efeitos da pandemia se estenderão por dois anos”, explica.

Ela avalia que a solução é ampliar o programa já existente. “A saída necessária é que os investimentos do Mais Bolsa Família sejam considerados uma exceção ao teto, para evitar o contrário do que Paulo Guedes propõe”, aponta. Segundo a ministra, se depender do governo Bolsonaro, os recursos existentes hoje serão divididos para mais gente, o que resultará em menos dinheiro para o povo.

Tereza lembra que o efeito da ampliação da linha de pobreza, hoje de R$ 178 para R$ 600, como propõe o PT, permitiria diminuir os impactos da crise do coronavírus sobre a maioria da população. “Dinheiro na mão do povo não é problema. É solução para ajudar a dinamizar a economia depois da pandemia”, aponta.

PT Nacional

Em um ano, Bolsonaro exclui 1 milhão de beneficiários do Bolsa Família

São 13 milhões de famílias atendidas, mesma cobertura de 2010, quando havia metade do desemprego atual, diz ex-ministra

Comunidade da Rocinha, localizada na Zona Sul da cidade (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Em um ano, o governo de Jair Bolsonaro excluiu do programa Bolsa Família um milhão de beneficiários. No primeiro semestre de 2019 eram 14,3 milhões de famílias, número que caiu para 13,5 milhões em setembro. A expulsão dessas famílias ocorreu no mesmo período em que a situação econômica do país caminhou ainda mais para trás e a vulnerabilidade social aumentou.

“Em 2019 voltamos ao patamar de nove anos atrás, de 2010. Só que hoje a economia vai mal, o desemprego é o dobro do que era há 9 anos, com muita precarização. Nesse cenário, um milhão de famílias que se enquadram nos requisitos do programa estão fora, tentando entrar, mas o programa está congelado”, afirma a ex-ministra do Desenvolvimento Social no governo de Dilma Rousseff (PT), a economista Tereza Campello.

Na avaliação dela, com as mudanças anunciadas no dia 8, o governo pretende aumentar a exclusão de famílias. “Excluir ainda mais a população cada vez mais empobrecida, que está sem trabalho, fazendo bico, com a comida mais cara. Estamos falando de tirar dessas famílias R$ 190, o que faz muita falta. O que esse governo precisa é criar empregos”.

A ex-ministra chama a atenção também para o fim de políticas articuladas com o Bolsa Família, como o Programa de Aquisição de Alimentos, para construção de cisternas e o Pronatec, que permitiam a emancipação de muitas famílias.

“No comando do Bolsa Família desde o governo de Michel Temer, o ministro Osmar Terra falou diversas vezes que havia zerado a fila de ingresso no programa, porém sem mostrar os números. Mas o que se sabe é que a porta está fechada para um milhão de famílias”, ressaltou.

Fome Zero

Em 9 de  janeiro de 2004, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 10.836/2004, que criou o Bolsa Família – maior programa de transferência de renda do mundo. O programa é resultado de debates com sociedade civil, ativistas e especialistas, a partir da experiência do programa Fome Zero.

Até o final de 2014, foram atendidas 14 milhões de famílias, o que permitiu retirar da miséria 36 milhões de pessoas. Em 2014, foram inseridos no mercado de trabalho 75% dos beneficiados, e 1,69 milhão de famílias procuraram voluntariamente os centros de referência em assistência social para abrir mão do benefício, pois já teriam elevado sua renda.

Fonte: Brasil de Fato