“É preciso pensar nos impactos do crime de Brumadinho sem deixar de enfrentar os problemas locais que afetam o Rio São Francisco”

Vereador professor Gilmar Santos (PT) chama atenção para os impactos do crime em Brumadinho e para as questões locais em audiência pública sobre o Rio São Francisco

Foto: Cinara Vieira

A Casa Plínio Amorim recebeu nessa segunda-feira (03) uma audiência pública proposta pela Frente Parlamentar em Defesa do Velho Chico com o tema “Os riscos ao Rio São Francisco após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho”.

A ação, que teve como objetivo debater sobre a atual situação do Rio São Francisco, contou com a participação dos deputados estudais Lucas Ramos (PSB) e Dulcicleide Amorim (PT) -membros da Frente, parlamentares e prefeitos das cidades vizinhas, e demais entidades ligadas ao tema, como a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), a Companhia Pernambucana de Saneamento e Água (Compesa), a Secretaria Estadual de Saúde e o Movimento dos atingidos por Barragens.

Em sua colocação, o vereador professor Gilmar Santos (PT) disse que reconhece os impactos e as consequências que o crime de Brumadinho, promovido pela Vale, tem sobre o Rio São Francisco e o desenvolvimento da região, especialmente sobre a saúde ambiental e humana dos ribeirinhos e são franciscanos, mas ressaltou que é necessário aliar a esse debate as questões locais que também incidem sobre esses fatores.

“É preciso pensar nos impactos do crime de Brumadinho sem deixar de enfrentar os problemas locais que afetam o Rio São Francisco, por isso é importante trazer para esses debates questões como, por exemplo, a falta de saneamento básico na cidade, onde esgotos de diversos lugares são despejados no rio; o alto índice do uso de agrotóxicos, especialmente com o governo Bolsonaro, que já liberou mais de 160 defensivos danosos que, inclusive, foram questionados pela Anvisa nas gestões anteriores; o modelo de desenvolvimento urbano que vem sendo seguido, onde a água não é tratada como um DIREITO da população, onde algumas áreas não tem água ou tem água sem o devido tratamento, como é o caso dos projetos de irrigação. Por isso, é necessário articular essas questões locais às questões de Brumadinho”, disse o parlamentar.

Gilmar também falou sobre uma audiência pública, de sua autoria, realizada em março de 2018 com o tema “Políticas Públicas de Preservação e Revitalização do Rio São Francisco” e cobrou a efetividade de alguns encaminhamentos que foram deliberados na ocasião.

São eles:

  • Criar uma comissão para pensar e acompanhar as políticas públicas referentes a preservação e revitalização do Rio São Francisco;
  • Criar rede integrativa envolvendo movimentos sociais e educação que dialogue com o Comitê da Bacia do São Francisco;
  • Viabilizar a criação de uma plataforma virtual que informe os investimentos para monitorar os recursos e ações efetivas de revitalização do Rio São Francisco, para que sejam registrados e catalogados os projetos e a mobilização em torno da revitalização do rio;
  • Realizar apanhado de estudos técnicos sobre os problemas que afetam e contribuem para a degradação do rio;
  • Monitorar ações governamentais e oferecer certificação com o suporte da academia sobre essas ações, uma espécie de controle de qualidade dessas ações;
  • Cobrar a articulação das ações da AMMA com outras secretarias como a de cultura, educação e turismo para o aprofundamento do debate acerca da democratização da água, a exemplo de ações que resolvam a situação da Ilha do Fogo, que chama a atenção pela falta de estrutura básica, o que compromete o atendimento, inclusive como espaço de preservação e educação ambiental;

“A gente faz essa cobrança em nome da garantia da vida do nosso rio, do nosso povo e das gerações futuras”, disse o edil, que entregou uma cópia da relatoria da audiência, qual foram feitos os encaminhamentos, aos deputados Lucas Ramos e Dulcicleide Amorim, para que possam acompanhar de perto as discussões e contribuir com a luta da população que vive em torno do Rio São Francisco.

Foto: Cinara Vieira

Rio São Francisco será tema de audiência pública na Câmara de Vereadores de Petrolina

A audiência para debater sobre as políticas públicas de preservação e revitalização do Rio São Francisco será realizada na próxima sexta-feira, 23, na câmara de vereadores de Petrolina, a partir da 9h. O evento contará com a participação de representantes de diversos setores da sociedade ligados ao rio e suas questões.

Diante do cenário de visível degradação do Rio São Francisco, das denúncias de lançamento de esgoto nos canais fluviais e da ameaça de privatização dos serviços ligados à gestão da água e sua capacidade geradora de energia, o vereador Gilmar Santos articula, através da audiência aprovada na câmara por todos os vereadores, uma interlocução entre agentes públicos, movimentos sociais e sociedade civil sobre ações devem ser prioritárias em um projeto de preservação e democratização do Rio São Francisco e suas riquezas.

Sobre a importância de um debate que integre a toda sociedade, o vereador aborda os motivos que o levaram a solicitar a audiência, em que relata que a situação atual de degradação é resultado de uma política que privilegia alguns setores e restringe o diálogo e a participação da população ribeirinha nas decisões sobre a gestão da água e de seus recursos: “Vivemos tempos difíceis, nos quais a relação entre a humanidade e a natureza ganham contornos cada vez mais predatórios. Este cenário pode ser visto na cidade de Petrolina quando os grandes empresários e especuladores imobiliários tomam os espaços públicos da cidade com obras que atacam o meio ambiente e agridem a natureza. Basta observar a situação do Rio São Francisco, tratado por muitos como mero local de despejo de dejetos e esgoto, tudo isso para atender à ganância de uma parcela privilegiada da sociedade”, diz o vereador.

O objetivo da audiência é, além de oferecer contribuições para ampliar do debate democrático sobre políticas do âmbito federal, gerar conteúdos e encaminhamentos que possam subsidiar o desenvolvimento de uma política pública municipal acerca de questões como à revitalização da mata ciliar, a manutenção dos espaços públicos localizados à beira do rio e da ilhas e a regularização do serviço de saneamento da cidade.

 

Ascom Mandato Coletivo

Gabinete do Vereador Prof. Gilmar Santos

“Água é um direito, não mercadoria” é o lema do FAMA2018

 

O aceno do governo do golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), de que pode outorgar o uso da água de forma descontrolada para servir aos interesses de grandes empreendedores, latifundiários e multinacionais colocou a questão como um dos centros dos debates do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA2018), que acontecerá em Brasília, de 17 a 22 de Março.

“Nosso debate é exatamente pela água ser um bem público, ela não pode ter controladores privados. Não pode ter dono”, diz Edson Aparecido da Silva, assessor de saneamento da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), e integrante da coordenação do FAMA2018.

“É importante deixar claro que a água não pode ser privatizada, nos moldes de estradas, telefonia, e outros serviços públicos que já foram privatizados, porém o governo insiste em criar mecanismos legais que possibilitem a criação de condições para que o setor privado se aproprie desse bem”.

Edson rebate os argumentos do coordenador temático do 8º Fórum Mundial da  Água, Jorge Werneck, que, em entrevista à Agência Brasil (EBC), disse considerar  “equívoco o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA) adotar como uma de suas principais bandeiras ser contrário à privatização da água. Que, no Brasil, por lei, a água é um bem público e dotado de valor econômico.  Como bem público, explica, sua privatização é impossível. Só é privatizável o serviço público, e não o bem”.

Essa “confusa” declaração na verdade mostra que Jorge Werneck não vê problemas de o serviço de abastecimento de água e saneamento ser concedido ao setor privado para ser explorado de acordo com as regras do mercado.

“Somos totalmente contrários à privatização dos serviços de saneamento, contra o controle das águas pelo setor privado. A água deve permanecer em mãos públicas”, rebate Edson Aparecido.

“É preciso separar as duas coisas: a água superficial e subterrânea enquanto recurso hídrico e os serviços de saneamento. Por exemplo, o governo não pode vender o Aquifero Guarani, mas pode criar mecanismos na legislação em que o controle das águas passe ao setor privado, fazendo concessões renováveis por 20,30 anos, dificultando o acesso da água pela população”, explica o coordenador do FAMA2018.

Edson lembra que a privatização da água já está sendo defendida por setores conservadores como no Projeto de Lei do Senado (PLS 495/2017), do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que propõe alterar a Lei Nacional de Recursos Hídricos e criar o mercado de água, inclusive com uma consulta popular no site do Senado.

O lema do 8º Fórum Mundial da Água  É “ Compartilhando Água”. E Edson pergunta “compartilhando de quem e para quem, com quem e para quê?”.

A visão do fórum das corporações é totalmente oposta ao FAMA2018 que defende a universalização dos serviços públicos, o acesso à água, independentemente da capacidade de pagamento do usuário, com criação de instrumentos políticos que garantam água para todos, fortalecendo o papel do Estado na prestação desse serviço.

“A privatização não vai alcançar a universalização porque eles trabalham com perspectiva de lucro e é por isso que o interesse do empresariado é no saneamento das grandes cidades e metrópoles, onde o serviço dá retorno financeiro. A água está diretamente ligada à saúde pública, ao desenvolvimento social. Não pode sair das mãos do Estado”, pondera Edson Aparecido.

FAMA2018 – “Água é um direito, não mercadoria”

Com este lema, o FAMA2018 construiu uma grande articulação entre os mais variados movimentos sociais que, de alguma forma, se relacionam com a água. Foram reunidos trabalhadores e trabalhadoras do campo, da cidade, povos quilombolas, indígenas, pescadores, os que mantêm com ela uma relação de religiosidade. Enfim, todos os povos que lidam com a água.

São trabalhadores e trabalhadoras mobilizados pelos Movimentos de Pequenos Agricultores (MPA), dos Atingidos por Barragens (MAB), MST e CONTAG, entre outros

(Foto: Jonathan Lins)

Para a construção do FAMA2018 foram criados comitês em 20 estados brasileiros, organizados a partir da aliança desses movimentos, numa luta de baixo para cima.

“O maior desafio é o FAMA2018 não terminar no dia 22 de março. Ele permanece com a manutenção da organização, da unidade dos comitês criados. Nossa perspectiva é que os comitês continuem enquanto espaços de luta em defesa da água como direito e não mercadoria, em defesa da soberania nacional e dos direitos humanos“, afirma Edson.

Fonte: Fórum Alternativo Mundial da Água