Carina Lacerda e Dona Santinha são homenageadas com Títulos de Cidadãs Petrolinenses; Santinha também foi agraciada com a Medalha Dom Malan

As homenagens, proposições do vereador Professor Gilmar Santos-PT, reuniram amigos, familiares e autoridades na Associação das Mulheres Rendeiras do bairro José e Maria

Fotos: Lizandra Martins

A noite do dia 25 de maio foi marcada por uma emocionante sessão solene na Associação das Mulheres Rendeiras do bairro José e Maria, zona norte de Petrolina, onde uma das suas fundadoras Cícera Rodrigues, conhecida como Dona Santinha, e a escultora Carina Lacerda foram agraciadas com os Títulos de Cidadãs Petrolinenses, em reconhecimento pelos relevantes trabalhos prestados pelo desenvolvimento social e cultural do município. A Rendeira Santinha também foi homenageada pelo parlamentar com uma das mais importantes honrarias da Câmara Municipal, a Medalha de Honra ao Mérito Legislativo Dom Malan.

Durante o momento, Santinha e Carina receberam homenagens de amigos e familiares.

“Carina é mulher-ventania, furacão, catou restos de madeira, depois embrenhou-se no mato e foi atrás da sua matéria-prima, mas diferente da maioria, ciente de que não podia machucar a natureza para extrair veleza dela passou a coletar madeira de árvores mortas no mato, nos restos de fogueira de São João, nas sobras de madeireiras, pois é, as madeiras mortas ganharam vida através de suas mãos. Carina engravidou de beleza, pariu as carrancas de peito, não bastando dois seios, esculpiu um terceiro. Suas imagens protegem os espaços da intolerância, da ignorância, da falta erotismo. Suas obras afastam a doença, a morte, são convocação de vida em madeira”, destacou Dione Carlos em sua homenagem à Carina Lacerda.

Com os olhos marejados, Carina agradeceu aos convidados e ao vereador Gilmar pelo reconhecimento.

“A arte pode mudar a nossa realidade e pode nos levar para mundos que jamais poderíamos imaginar e esse momento que estou vivendo agora é um mundo que eu jamais imaginei”, disse.

Santinha, em seu discurso, ofereceu suas honrarias às mulheres rendeiras e a todas as mulheres sertanejas.

“A gente espera que se renove cada vez mais, porque esse projeto é muito lindo. Trabalhar com mulher é a coisa mais bonita que se tem, e quando a gente trabalha para empoderar as mulheres, para que a mulher possa ter seus direitos respeitados, é ainda mais bonito”, explicou Santinha.

Cícera Rodrigues, “Dona Santinha”

Dona Santinha, nome afetuoso de Cícera Josefa, chegou a Petrolina aos nove anos com sua mãe, enfrentando muitas dificuldades. Mesmo com obstáculos, ela sempre quis estudar, mas teve que parar na terceira série devido à falta de recursos. Casou-se aos 16 anos e, com muita luta, obteve um terreno onde criou sua grande família. Sua atuação comunitária começou em 1982, fundando a associação de moradores do bairro José e Maria, e desde então tem sido uma figura central na luta pelos direitos da comunidade. Participou ativamente de vários conselhos municipais e estaduais e foi fundamental na fundação da Associação das Mulheres Rendeiras, que combate diversas formas de injustiça. Além disso, é ativa na Igreja Anglicana, lutando contra a intolerância religiosa.

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Carina Lacerda

Carina Lacerda, residente em Petrolina desde 1990, decidiu se dedicar à escultura em madeira em 2005, enfrentando desafios devido ao machismo estrutural no Centro de Artes Mestre Quincas. Enfrentou dificuldades para obter matéria-prima devido ao seu gênero, sendo apelidada de “Urubu” por coletar madeira descartada. Sempre preocupada com o meio ambiente, coletava árvores derrubadas e restos de madeira nobre. Em 2006, criou Zaia, carranca de peito, escultura representativa da força das mulheres, desafiando a misoginia. Em 2020, defendeu sua tese na Universidade Federal do Vale do São Francisco e em 2022 foi aprovada em mestrado na UFPE. Continua sua jornada como escultora, recebendo reconhecimento e expondo em todo o país. Fundou o Vetor Cultural, oferecendo oficinas de escultura para diversos grupos, incluindo mulheres, LGBTQIA+ e comunidades quilombolas.

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Por Victória Santana (ACS/Mandato Coletivo)