De autoria do Mandato Coletivo, o PL foi aprovado por 19 votos e agora aguarda a sanção da Prefeitura de Petrolina
A literatura de cordel, reconhecida como patrimônio cultural brasileiro, já foi um espaço majoritariamente ocupado por homens. Entretanto, ao longo dos anos, foram as mulheres que assumiram importantes movimentos de participação na produção e fortalecimento deste gênero textual tão significativo para a cultura nordestina.
Em gesto de sororidade, as mulheres cordelistas vêm divulgando, sendo referência e conquistando espaços, respeito e valorização do seu ofício. Uma das matriarcas do movimento foi a Cordelista Maria das Neves Batista Pimentel. Seu legado influenciou muitas mulheres que hoje continuam levando grandes ensinamentos e conscientização através da literatura nordestina.
O Projeto de Lei
Aprovado pelos parlamentares da Casa Plínio Amorim na manhã da última terça-feira (01), o Projeto de Lei (PL) nº 064/2020 de autoria do Mandato Coletivo, representado pelo Vereador Professor Gilmar Santos (PT), institui no calendário oficial do município a “Semana da Mulher Cordelista – Maria das Neves Batista Pimentel”, que deve ser realizada anualmente na primeira semana de agosto.
A Lei recebe o nome de Maria das Neves Batista Pimentel, cordelista nordestina que inspirou e ainda inspira muitas mulheres pelo país. Um dos objetivos do PL é promover e valorizar o protagonismo das mulheres em todos os segmentos culturais, além de criar valorização e o acesso a Literatura de Cordel nos espaços públicos e privados da cidade, em especial nas escolas.
“Nós temos uma grande quantidade de mulheres assumindo a literatura de cordel. E aqui nós temos a alegria de fazer esse reconhecimento a companheiras do município de Petrolina, mas também de outras regiões do país, pontuou Gilmar Santos.
Em justificativa ao projeto, o vereador Gilmar Santos lembrou da importância de “estimular a participação de mulheres na literatura de cordel, mas não somente, na literatura de maneira em geral”. O PL prevê a realização de eventos culturais voltados para a literatura de cordel e a Inclusão de materiais sobre a cultura regional, nordestina e nacional no conteúdo didático da rede municipal de educação.
Maria das Neves Batista Pimentel
Maria das Neves Batista Pimentel, filha de Francisco das Chagas Batista e Hugolina Nunes Batista, nasceu em João Pessoa-PB, em 02 de agosto de 1913, contudo suas origens estão relacionadas à cidade de Teixeira/PB, berço da cultura cordelista. A vida da poetisa foi permeada de muita informação cultural e ainda na infância brincava de fazer pequenas dramatizações e junto com suas vizinhas apresentava-se aos pais no domingo, brincadeira que estimulava o seu tino teatral.
Francisco das Chagas, seu pai foi pioneiro ao abrir uma Livraria Editora e Tipografia em todo o Nordeste. O que permitiu que na sua juventude Maria tivesse acesso a romances e autores clássicos como Machado de Assis, Érico Veríssimo, Olavo Bilac, Castro Alves, entre outros.
Na escola onde estudou, o tradicional Colégio Nossa Senhora das Neves, se destacou na capacidade de decorar principalmente poesias. Com o falecimento de seu pai e vendo o desinteresse de sua mãe em continuar com a livraria, casou-se com Altino de Alencar Pimentel, e aos 19 anos foi morar em Maceió-AL, onde residia outra parte da família.
A situação financeira do casal era bastante diferente daquela que vivera na infância e adolescência e como ela era bem familiarizada com as letras, tendo como referência o avô materno Hugolino Nunes da Costa, cordelista famoso na época, um dia ouviu do marido a proposta de versar um romance. Prontamente aceitou o desafio e o primeiro foi o ‘Corcunda de Notre Dame’, impresso pelo seu companheiro, que vendeu mais de mil cópias. O detalhe é que o Pseudônimo usado foi o de Altino Alagoano, e o não o de Maria das Neves.
Tempos depois, Altino perguntou se ela não queria versar outro romance já que o primeiro folheto havia sido todo vendido, e ela então, após ler o romance Manon Lescaut do abade Prévost, versou com o título ‘O amor nunca Morre’, sendo deste produzidas duas edições.
Em seguida veio à oportunidade de versar para o cordel o livro O Violino do Diabo de Perez Escrich, que recebeu o título de ‘O Viulino do Diabo ou O Valor da Honestidade’. Usando o pseudônimo do marido, Maria das Neves alcançou propósito de versar romances para o cordel. Para ela, o romance versado em Cordel seria mais acessível, pois falava a linguagem do povo. Os três folhetos foram publicados com o Pseudônimo de Altino Alagoano, pois à época não havia mulheres atuando na literatura de Cordel.
Maria das Neves teve 8 filhos, tendo dois falecido ainda na infância, ficou viúva em outubro de 1945, aos 32 anos, pouco dias antes de dar a luz a filha caçula, que nasceu oito dias após a partida do marido. Sozinha e com seis filhos, Maria das Neves criou sozinha os 6 filhos e foi muito valente e destemida numa época em que a mulher não trabalhava fora. Com sua garra e dedicação, garantiu que todos os filhos tivessem acesso a educação.
Já na velhice viu seu trabalho ser reconhecido através da pesquisa e publicação do Livro Uma Voz Feminina no Mundo do Folheto da professora Maristela Barbosa de Mendonça, que resgatou da obscuridade o nome de Maria das Neves Batista Pimentel escondido no pseudônimo Altino Alagoano. Maria das Neves faleceu em 1994 aos 81 anos após ter seu nome reconhecido como a primeira mulher na Literatura de Cordel do Brasil.