Em discurso contundente, vereador Gilmar Santos (PT), faz defesa da democracia e denuncia atitude violenta do deputado federal Gonzaga Patriota

“Use a sua valentia senhor deputado para resolver os grandes problemas que afetam o nosso povo”

Foto: Wesley Lopes

Na sessão dessa terça-feira, 10 de abril, com as galerias da câmara lotadas de manifestantes solidários ao vereador, fazendo uso da tribuna, o professor Gilmar Santos proferiu discurso defendendo a democracia e denunciando a violência do deputado Gonzaga Patriota (PSB). O vereador foi, no ultimo domingo, durante um evento em Rajada, agredido fisicamente pelo referido deputado.

Leia abaixo o discurso completo:

Senhoras vereadoras, senhores vereadores, servidores dessa Casa, imprensa, comunidade aqui presente. Agradeço ao vereador Paulo Valgueiro por ter me concedido o seu tempo, ao vereador Cícero Freire por conceder o seu tempo.

Quero aqui lamentar em ter que utilizar essa tribuna hoje para relatar uma  agressão física por parte de um deputado federal, representante ou suposto representante da nação, contra um cidadão de Petrolina e, além disso, um representante do povo de Petrolina.

Quero aqui agradecer aos companheiros e companheiras que me prestam solidariedade, mas muito mais que isso, companheiros e companheiras, combativos, que têm zelo, respeito e compromisso com a democracia.

Quero aqui cumprimentar o Diretório Central dos Estudantes da UNIVASF, na pessoa de Pedro Lucas; a Trup Errante, na pessoa de Thom Galiano; a Companhia Biruta, na pessoa de Veronaldo Martins; a Balançarte, na pessoa de Marco Aurélio; o Teatro Popular de Artes, nas pessoas da companheira Márcia e do companheiro Paulo Henrique; os professores Nilton Almeida e Elson e todos os professores da UNIVASF; a União da Juventude Comunista, o Partido Comunista Brasileiro, nas pessoas dos camaradas Gabriel e Roni; a União da Juventude Socialista, na pessoa do companheiro Luiz Eduardo; a Associação Raízes, os companheiros Chico Egídio e Lizandra; aos companheiros e companheiras do Partido dos Trabalhadores, nas pessoas de Zezinho de Mindú e Geraldo da Acerola; os comunitários aqui presentes, a quem cumprimento na pessoa de Pedro Japão; o companheiro, músico, Maércio José; e a todos os estudantes, professores, educadores, comunitários, lutadores e lutadoras que se encontram aqui nesse ato de solidariedade e de luta pela democracia.

Senhoras e senhores, vou pedir licença, porque eu escrevi, e sei que o tempo aqui, para se tratar de questões de interesse da sociedade, muitas vezes é disciplinado, controlado, porque muitas vezes o que vamos falar fere uma estrutura autoritária que massacra o nosso povo. Aí, eu peço licença aos senhores e as senhoras.

No último domingo, aconteceu no distrito de Rajada a 5ª audiência popular em defesa da pavimentação da PE 630. Ao passar pelo portão de uma escola, onde ocorria o evento, me deparei com o senhor deputado federal Gonzaga Patriota que, de longe, repito, de longe, a mais ou menos uns 5 metros, acenou tentando uma comunicação. Naquele momento, num gesto de protesto, me esquivei e falei ao deputado que me recusava a cumprimentar golpista.

O deputado, sentindo-se contrariado, me seguiu, e continuou insistindo em argumentações. Porém, mantive o meu posicionamento e repeti que o golpe ocorrido em 2016, contra o governo da presidenta Dilma, uma mulher honesta, tinha o voto dele, tinha a responsabilidade dele. Em nenhum momento fui em direção ao senhor deputado, em nenhum momento insisti em aproximação com esse senhor. Em nenhum momento fui fazer provocações diretas a ele. Apenas utilizei do meu direito de não cumprimentar golpista. Ele insistiu. E quanto mais se aproximou, mais reafirmei o meu posicionamento. O senhor é golpista! E naquele momento, o golpista, descontrolado, desequilibrado e de forma truculenta e covarde, o deputado Gonzaga Patriota desferiu um soco no meu rosto. Seguranças que o acompanhavam, de forma profissional, retiraram o deputado da minha frente. Não revidei. Não revidarei da forma suja como ele trata a democracia. Isso não significa dizer, senhores e senhoras, que vou me acovardar. E significa dizer, senhor Gonzaga Patriota, que eu não estou sozinho nessa luta.

O fato ganhou repercussão e o senhor Gonzaga inventou uma versão fajuta, cínica de que estendeu a mão para mim. Mentira. Inventou de que eu havia feito provocações, lhe chamando de ladrão. Mentira! Inventou, afirmando que eu tentei agredi-lo. Outra mentira! Fiz o que fiz de forma pacífica. A minha atitude foi crítica? Constrangeu o senhor Gonzaga Patriota? Tocou na sua ferida política? Tenho certeza que sim. Mas jamais usei ou usarei de palavras de baixo calão, ofensivas ou injustas para atingir a moral, a integridade de quem quer que seja.

Porém, o contrário aconteceu. O senhor Gonzaga usou a violência para resolver uma questão da democracia. Usou a truculência, típica dos coronéis, para resolver o que exigia o diálogo ou até mesmo o silêncio. E pior, diz que bateu mesmo, porque é muito homem,  “homem de bem”, “honesto”,  que não aceita desaforo e dedo na venta. Expressões típicas de gente autoritária, acostumada mandar, impor, humilhar e ser bajulado por gente que baixa a cabeça e não tem coragem de questionar a sua péssima atuação política de um deputado que está há 40 anos na vida pública. São sete mandatos de deputado federal. Político profissional, que aparece em caminhonetas de luxo pelas periferias de Petrolina a cada eleição em busca de votos do povo sofrido,  o povo da periferia que está há 40 anos, sem pavimentação, sem saneamento básico, sem segurança, sem saúde, sem educação de qualidade,  sem dignidade.

É preciso dizer ao senhor Gonzaga Patriota que não use a sua valentia contra um cidadão que o critica, já que nós, políticos, precisamos ter a capacidade de ouvir qualquer tipo de crítica, principalmente quando elas denunciam nossas atitudes injustas. Use a sua valentia senhor deputado para resolver os grandes problemas que afetam o nosso povo. Por exemplo: fui registrar o boletim de ocorrência contra o deputado Gonzaga em delegacia caindo aos pedaços, com policiais civis trabalhando em ambiente insalubre, tomado de mau cheiro do xixi, ambiente estressante, humilhante para aqueles policiais. Onde está a valentia do senhor Gonzaga para resolver esse problema, já que o governador é do seu partido e teve todo o seu apoio? Cadê a valentia do senhor Gonzaga sobre a Compesa, que indigna e maltrata a nossa população? Onde está a valentia do senhor Gonzaga sobre a situação do Hospital de Traumas, Que humilha o nosso povo? Onde está a valentia do senhor Gonzaga sobre a situação dos policiais militares, filhos da periferia, que se transformam em policiais e vão bater no povo da periferia, e que estão em ambiente estressante. Onde está a valentia do senhor Gonzaga para garantir uma segurança pública com inteligência e menos truculência?  Esses são apenas alguns exemplos da contradição, de quem diz defender a democracia, mas está comprometido mesmo é com a violência e questões meramente eleitorais.

O senhor Gonzaga quis bancar de vítima, afirmando que não é golpista, porque golpista é quem rouba, pratica furto, é corrupto. Sugiro ao “nobre” deputado que consulte melhor o dicionário. Golpista é, também, aquele que dá golpe (‘manobra, é desleal’, dá ‘golpe de Estado’). É aquele que favorece esse tipo de manobra, que é traidor do povo.

O golpe parlamentar liderado por Eduardo Cunha, Aécio Neves, Romero Jucá, Rodrigo Maia, com o apoio de Fernando Bezerra Coelho e Fernando Filho,  que usaram cinicamente o argumento de que o impeachment contra a presidente Dilma era para acabar com a corrupção no Brasil; quando na verdade era para colocar Michel Temer e toda uma quadrilha de homens brancos, ricos, racistas e homofóbicos, gente da pior qualidade, que tem levado o Brasil a uma situação de abismo e penúria, vexames, vergonha e escandalosa insegurança jurídica e escancarada perseguição política ao ex-presidente Lula.  Tudo isso contou com o seu voto, senhor deputado.

Esse golpe que tem atingido principalmente a vida dos mais pobres, dos trabalhadores, negros, indígenas, moradores de periferia; que corta e congela por 20 anos os recursos da saúde e da educação; golpe que corta em 95% os recursos para a gente sofrida do semiárido; esse golpe que só foi possível porque deputados e senadores, eleitos para defenderem a democracia,  traíram o povo. Mais de 54 milhões de eleitores que votaram na presidenta Dilma tiveram os seus votos jogados na lata do lixo dos golpistas.

É o golpe patrocinado por empresas e forças políticas dos Estados Unidos da América, gente que está ansiosa para se apropriar do petróleo, do pré-sal e de todo patrimônio nacional possível. Golpe articulado pela Rede Globo de Televisão e demais setores da grande mídia,  que produzem notícias para desinformar, confundir e manipular o povo contra o Partido dos Trabalhadores, contra as organizações e movimentos sociais de esquerda, contra o presidente Lula, gerando sentimentos de ódio, propagando o fascismo e criminalizando  a política.

É um golpe que criou todas as condições para essa ditadura do judiciário, um judiciário conduzido por juízes e promotores que pregam a justiça, mas julgam com parcialidade, partidarismo e ódio aos mais pobres. Como acreditar numa justiça em que juízes que têm super-salários, que têm imóveis (alguns com até 60 imóveis) e ainda recebem auxílio moradia, podem ser justos nos seus julgamentos?

Para a esposa do Eduardo Cunha absolvição, para o Aécio da mala de dinheiro absolvição, para  o Serra arquivamento, para Michel Temer, Romero Jucá, Padilha, Alckmin e tantos outros, nenhuma condenação. Estão soltos e rindo da cara do povo brasileiro. Para o maior  líder político da história desse país, homem que mais defendeu os pobres e trabalhadores, a suposta justiça é muito ágil e rigorosa, e até violadora de direitos fundamentais.

Senhoras e senhores, esse parlamento, a Casa Plínio Amorim, e a comunidade aqui presente, está sendo testemunha de uma violência, não apenas contra um cidadão de Petrolina, mas contra a democracia, contra a liberdade de expressão e política. Os vereadores dessa Casa ao se omitirem diante desse fato abrem caminho para a violência; ao se omitirem diante da truculência política, ao autoritarismo, constroem armadilhas que mais tarde poderão ser utilizadas contra os senhores e as senhoras. Repudiar essa violência, sem arrodeios, sem covardias, é o mínimo que se espera dessa Casa. Assumir uma postura em defesa da democracia é defender a paz social. Assumir uma postura combativa em defesa da democracia é ter compromisso com os nossos filhos e filhas, garantindo a eles um país onde as pessoas possam se manifestar sem ter que agredir fisicamente ninguém. Calar-se covardemente ou ser cúmplice da violência é entregar a nossa sociedade à barbárie.

Se os senhores e as senhoras se calam, são coniventes ou tentam remediar agressões físicas. Devo dizer que, daqui pra frente, qualquer ato de violência física contra qualquer um de nós terá como fundamento essas atitudes.

Não revidei ao senhor Gonzaga porque tenho respeito à democracia. Tenho respeito à dignidade humana. Porém, isso não significa dizer que me calarei, que não usarei medidas cabíveis, exatamente porque não sou covarde. O senhor disse que é muito homem. Devo dizer que ele encontrou outro homem para enfrentá-lo em defesa da democracia, não para agredi-lo covardemente. Senhor Gonzaga Patriota disse que é muito homem, muito macho. Quero dizê-lo que ele encontrou muito mais que um homem, um ser humano que tem princípios e valores e nós não vamos nos curvar. Ser humano que não baixa cabeça para coronéis e tem todo direito de não cumprimentá-los quando se tornam golpistas. Ser humano que não foge da luta e que prefere morrer lutando pela democracia que se calar perante injustiças ao nosso povo. Não tenho ódio do senhor, não quero promover nenhuma guerra contra a sua pessoa ou os seus. Não é pra isso que faço política.

Sou Gilmar dos Santos Pereira, filho de Maria Diuza dos Santos, trabalhadora, combativa, honesta, feirante, cidadã desse município. Sou filho de Euclides Paulo dos Santos, negro, pequeno comerciante, vigilante, cidadão desse município. Em honra à minha mãe, ao meu pai, senhores vereadores, eu farei a devida defesa da democracia porque foram esses valores que eles me ensinaram.

Quero dizer aos senhores e às senhoras, que sou um preto, que chegou a esse parlamento, para defender a juventude negra que está sendo exterminada por esse sistema sujo! Eu sou um periférico, para defender a periferia desse sistema sujo! Em memória da vereadora Marielle, mulher, negra e LGBT, combativa, defensora de pretos, pobres, periféricos, defensora de policiais atingidos por esse sistema covarde! Defensora dos direitos humanos! Em memória de Anderson, dos servidores da segurança pública, massacrados por essa guerra de irmãos e de tanta gente que deu a vida para que esse país seja mais justo, igualitário e fraterno!

Espero que o senhor da vida nos proteja dos truculentos, odiosos e criminosos. Espero que os movimentos sociais e o povo organizado façam a devida justiça. A história haverá de julgá-lo senhor Gonzaga. Viva o povo brasileiro!!!! Viva a democracia!!!! Lula Livre!!!! Fora Temer!!!