“De Passagem passou à Vila. Da encruzilhada, caminho aos “impossíveis” de uma pretensa Califórnia Brasileira, acordou menina a Petrolina que hoje é referência internacional” *Por Carlos Laerte
De Passagem passou à Vila. Da encruzilhada, caminho aos “impossíveis” de uma pretensa Califórnia Brasileira, acordou menina a Petrolina que hoje é referência internacional. Ao sabor do tempo e dos temperamentos, mudaram os nomes e as atitudes. Os sonhos e devaneios permanecem imutáveis, soberanos como o rio, que a tudo banha, enriquece e glorifica.
Como o “Poema de Pedra”, que o primeiro bispo, Dom Malan, um dia fez Catedral, e a partir de onde, tudo cresceu ao redor, a terra foi se fazendo, crescendo aqui, encolhendo ali, explodindo acolá. O que antes era apenas uma citação pendurada na parede, agora se apresenta qual avenida, beco ou viela de uma metrópole sertaneja. Nem de longe parece mais a feira que já tomou boa parte da avenida Souza Filho, depois virou Mercado Público, ali ao lado da ponte Presidente Dutra e saiu se espalhando pelos bairros.
Quem haveria de imaginar que a atual rua Pacífico da Luz um dia já se chamou de Bahia? Hoje a Terra do Axé dá nome ao Calçadão, que por sua vez, andou sendo denominado de Tesourão. A rua Coronel José Rabelo Padilha já foi João Pessoa, que também já foi Pacífico da Luz.A rua da Floresta de tanto se chamar dos Valérios recebeu o nome do patriarca da família, o mestre de obras Valério Pereira. O Buracão sempre foi o mesmo até desaparecer sob um destes aterros do progresso. Onde hoje brilha a Orla I, um dia já chamaram de Manoel Xavier, depois Maurício Vanderley, depois Joaquim Nabuco. Antes de tudo, se chamava apenas de a rua do Grude. A razão do nome, o historiador Euvaldo Aragão faz mistério, todavia ele revela: “Até 1950, Petrolina tinha apenas duas referências; Atrás da Banca e a rua de Baixo”. Como em todas cidades por onde passava a linha férrea, um lado se chamava Banca, o outro, ou melhor, a rua de Baixo começava aonde é hoje a Igreja Universal (antigo Cine Petrolina) e seguia até o Pio XI, atualmente centro.
Os poderes constituídos passaram também a chamar de centro, lugares como Atrás da Banca que virou Santo Antônio, Alto Cheiroso que agora é Vila Eduardo e São José e Vila Mocó, que o povo continua chamando pelo mesmo nome. Houve um tempo onde quem vivia ali pelas imediações da escola professor Manoel Xavier Paes Barreto, na verdade morava era no Cinzeiro. O mesmo que um dia foi a roça de Seu Melquíades e assistiu aos avançados namoros da geração Chucalhos. O Cacete Armado, de tantos embates e desafios, era onde hoje funciona pacificamente o Bandepe e Banco do Nordeste. Nas imediações do Fórum, ali na avenida Fernando Góes, pontificava imponentemente o Caldeirão da Raposa, de onde um dia retiraram as pedras para construir a Catedral, os nobres empreendedores de um tempo, que também mudou de nome. Os mesmos homens de fraque e gravata que relaxavam da dura labuta diária na difícil vida fácil das meninas do Limo Verde (atual Avenida Monsenhor Ângelo Sampaio), do Tombadinho (ao lado do Viaduto Barranqueiro), João Bernardo (próximo ao Tombadinho) e Vila Balão (nos contornos do Parque Josepha Coelho).Pelas noites de então, passos bêbados na madrugada dos tempos, entre um gole nos bares do Simplício, Odeon, dos Amigos, Barranqueiro, e o caldo no Mascote de Pereira. Do Ponto Chic para a Iglu, bastava apenas atravessar a rua. A mesma ponte que um dia nossos pais palmilharam, procurando se encontrar.
*Texto de Carlos Laerte. Poeta, jornalista e diretor da Clas Comunicação e Marketing (crônica extraída do livro ‘Rio que passa’ – 2007).