Na sessão dessa quinta-feira a comunidade de Petrolina foi duramente violentada com a provação de um projeto de lei, proposto pelo vereador Elias Jardim (PHS), que estabelece o autoritarismo curricular em nossas escolas. Os debates de gênero e sexualidade, contrariando a legislação educacional brasileira, estão sendo proibidos em nossa cidade.
O projeto que é fundado em argumentos mentirosos, que cita artigos inexistentes no Plano Nacional de educação, e que mencionam outros documentos que também não existem, pretende impedir que se fale sobre aquilo que ele chama de “ideologia de gênero”, termos inventados por setores conservadores da nossa sociedade para impedir os avanços políticos que mulheres e LGBTS têm conseguido inclusive no ambiente epistêmico, de elaboração do pensamento, de desnaturalização dos lugares e das desigualdades sociais.
A sessão foi marcada por muitas violências disparadas através dos microfones dos parlamentares da bancada de situação. Um show de machismo, sexismo e LGBTfobia. Falas marcadas pelo ódio que é próprio dos ignorantes, dos analfabetos políticos, dos insensíveis, dos medíocres, dos emburrecidos, dos incapazes de elaboração do pensamento, dos infelizes, dos desumanos, dos toscos, dos idiotas.
O que mais assustou foi o uso da bíblia e do nome de Deus para justificar tamanha violência, numa clara demonstração de desconhecimento de quem foi Cristo (Obs: o projeto é de um pastor evangélico). Jesus foi um homem do povo e filho de trabalhadores; lutou pelo Estado laico ao professar a separação daquilo que era Deus daquilo que era de Cesar; acolheu leprosos, mendigos e prostitutas; um rebelde, um revolucionário, um perseguido político. Jesus Cristo foi, antes de tudo, um homem preocupado com a diversidade das existências, sensível as violências sofridas por seu povo pobre. Ele foi morto aos 33 anos pela incompreensão dos arrogantes e autoritários. Nessa sessão de quinta-feira ele foi novamente assassinado por esses mesmos carrascos que há séculos perseguem seu povo, inclusive sob a o título de pastor.
O vereador Gilmar Santos e a vereadora Cristina Costa, ambos do Partido dos Trabalhadores, foram os únicos que se posicionaram contrários ao referido projeto.
Gilmar Santos nos lembrou que, em momento algum, o Plano Nacional de Educação proíbe a realização desses debates no ambiente escolar, assim como não está proibido na Lei de Diretrizes de Base (LDB). Ainda chamou atenção dos presentes para fato de que proibir tais assuntos em nossas salas de aulas estimula a continuidade das violências sofridas por mulheres e LGBTs em nossa sociedade.
A vereadora Cristina Costa lembrou que não foi a primeira vez que a casa Plínio Amorim toma postura intolerante com as diferenças, ela trouxe a memória da sessão solene em homenagem ao 20 de novembro, ocasião em que muitos parlamentares se retiraram do plenário devido a presenças dos povos de terreiros.
A votação desse projeto foi feita sob o protesto de vários/as militantes LGBTs e feministas. Da platéia eles e elas gritavam na tentativa de sensibilizar os/a parlamentares a votarem contra, no entanto foram vítimas do ódio destilado do púlpito por aqueles que dizem nos representar.
Segundo Socorro Lacerda, professora e militante feminista, “esse projeto de lei além de incentivar o ódio, discrimina as mulheres. Quando você instala uma situação de proibição de discutir direitos, você instala uma situação onde a democracia não é permitida. Essa lei tem uma natureza machista, misógina, homofóbica e que promove o ódio”.
Eduador Rocha, presidente da Associação Sertão LGBT, nos advertiu que o prefeito da cidade, durante o desfile cívico de aniversário de Petrolina, se comprometeu em realizar políticas públicas para a comunidade LGBT, sendo assim seria prudente que ele vetasse o projeto aprovado pelos vereadores, haja vista que essa lei contraria seu posicionamento anterior feito diante de todos e todas que estavam em frente ao paço municipal naquela ocasião.