Exigência de respeito aos direitos de crianças e professores motiva reflexão do vereador Gilmar Santos na Casa Plínio Amorim

Na sessão dessa terça-feira (11), o vereador e professor, Gilmar Santos, usou a tribuna da Câmara de Vereadores de Petrolina para chamar a atenção da sociedade acerca da importância de se refletir sobre direitos das crianças e a valorização dos professores/as, já que se aproximam os dias 12 e 15 de outubro, respectivamente, em homenagem às crianças e aos professores.  Com muito esforço, devido ao intenso barulho provocado pelos próprios parlamentares, Gilmar Santos chamou a atenção sobre a importância de se pensar a educação contextualizando-a com os vários acontecimentos recentes em nosso país, a exemplo dos cortes orçamentários do governo Temer, previsto para 2018.

No seu discurso, o parlamentar lembrou do trágico episódio ocorrido no último dia 05,  na Creche do Município de Janaúba (MG), onde 09 crianças morreram. Santos ressaltou  a atitude da professora contratada, Helley Batista, de 43, que perdeu a vida quando lutou contra o agressor, tentando salvar as crianças, mesmo com o corpo ardendo em chamas: “essa atitude heroica da professora Helley  representa todos os professores e professoras que dão a vida para cuidar das nossas crianças, tanto em Petrolina quanto no Brasil à fora. Na maioria das vezes, são profissionais com contratos precários, sem garantia de direitos ou de estabilidade. Muitas delas, já que na maior parte das creches temos mulheres,  tiram do próprio bolso para comprar materiais didáticos e realizar as suas atividades. A professora Helley já era uma heroína antes mesmo dessa tragédia. A sua atitude nos convida a pensar cada vez mais a luta por maior dignidade para os nossos professores e para as nossas crianças”, refletiu Santos.

Em Petrolina muito dos nossos educadores e educadoras se encontram em igual condição, pois cerca de 80% (881) do nosso quadro docente é constituído de profissionais contratados, com necessidade de mais de 600 outros/as profissionais.

O vereador também invocou a memória do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). O mesmo cometeu suicídio depois de ter passado por intenso constrangimento ao ser preso injustamente, acusado de obstrução da justiça, na Operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal, que investigava um esquema que desviou 80 milhões do programa Educação à Distância. “A humilhação pela qual passou o reitor Cancellier deve nos levar a pensar e a denunciar esse verdadeiro estado policial, estimulado por essa campanha espalhafatosa da Lava Jato, onde agentes de segurança prendem para depois investigar ou transformam as prisões em verdadeiros espetáculos midiáticos. Ou ainda, quando policiais, procuradores e juízes abusam da autoridade e brincam com a dignidade humana. A morte do professor Cancellier deve despertar em cada professor, professora, a luta por uma sociedade sem essas injustiças”. O edil ainda lembrou que essa luta se faz ainda mais necessária devido aos cortes no orçamento da educação superior em mais de 3 bilhões para o próximo ano”, conclamou Santos..

Ao tratar dos direitos das crianças, o vereador do PT, refletiu que: “muito mais que presentes, brinquedos, ou realizar festas, os adultos devem lutar por políticas públicas que possam assegurar para as crianças, educação pública, gratuita e de qualidade, segurança e um ambiente social que lhes garantam o pleno desenvolvimento das suas potencialidades”. Ao falar das violências sofridas pelas crianças, enfatizou que muitas delas sofrem violências físicas, psicológicas, dentro e fora de casa. Um dos maiores desafios, segundo o parlamentar, é sintonizar a sociedade diante das verdadeiras necessidades das crianças. Santos fez, também, duras críticas à negligência do estado e à corrupção. Nesse sentido, chamou a atenção para os cortes que o governo Temer irá promover no orçamento de 2018: “como é possível acreditar em um governo, em um Estado, em uma sociedade que não prioriza a educação das nossas crianças?  O governo Temer vai cortar em 50% os recursos da educação básica. Em 87% os recursos do esporte. Em quase 99% os recursos da Assistência Social. Enquanto isso, o presidente gasta mais de 13 bilhões em emendas parlamentares para proteger a sua pele diante das denúncias por corrupção. Vivemos um caos, é um verdadeiro atentado contra a vida das nossas crianças e o  futuro do país”.

Ao final do seu discurso, o vereador desejou felicidades a todos os professores/as e às crianças do nosso município e do país, e enfatizou que “é preciso que todos/as estejam unidos para evitarmos tragédias maiores. É preciso combater os discursos de ódio, os preconceitos e o fascismo que têm crescido bastante em nossa sociedade”.

Saravá das Crianças

Por Jaqueline Santos

Significativa e expressiva manifestação sociocultural negra, o candomblé é palco de vários estudos, uma manifestação da fé e do divino que nasce da resistência preta no Brasil e se mantém até hoje também com muita fé e perseverança.

Segundo dados da Associação Espírita e de Cultos Afro-brasileiro, fundada em 17 de dezembro de 2007, Petrolina e Juazeiro, possuem mais de 400 terreiros envolvendo Candomblé, Umbanda, tendas, casas brancas, casas de sessão, centros espíritas de orientação umbandista, mesas brancas, casas de orações, entre outras.

Dentre esses tantos ylês, o Bandalecongo, nome do barracão da nação Angolana, quer dizer “Terreiro de Angola”. O Orixá da casa é Tempo. Situado no bairro Palmares I na periferia de Juazeiro, Bahia, que foi fundado em 2000 por Tempo Zará Lenbúracinguê de Umzambe, mais conhecida como Mãe Maria de Tempo, que em 2004 se tornou Ialorixá (uma sacerdotisa e chefe de um terreiro de Candomblé).

No Bandalecongo, Mãe Maria de tempo tem como base, os filhos e filhas biológicas para contribuir na organização das festas e ritualista, mas também conta com filhos e filhas de axé. O filho biológico de Mãe Maria, Naian dos Santos Pereira, iniciado com sete anos de idade, Ogam Mirim de Ogum, conta ter sentido vergonha de compartilhar com os colegas da escola o processo pelo qual estava passando. “Eu tinha vergonha, por que os meninos ficavam ‘zuando’ o cara”. Segundo Naian, a escola que ele estudava promoveu uma atividade em sala para falar sobre as religiões de matriz africana, o que contribuiu para ele se sentir mais seguro e diminuir a vergonha e desconforto.

Foto: Arquivo pessoal

A Ialorixá e mãe biológica de Naian, a mãe Maria de Tempo, relatou os problemas enfrentados no processo de iniciação. Onde o conselho tutelar foi acionado para questionar as ausências dele na escola e a inserção dele na religião. “Graças à diretora que era muito compreensiva e aberta, ela ajudou muito, conversou com os professores, fez atividade na escola e me ajudou a proceder juridicamente para defender a tradição da família. Graças a ela e a Makota Ioná, minha neta já não precisou passar pelas mesmas coisas que passamos com Naian”, afirma Maria de Tempo.

Filha de Iansã, se iniciou aos 06 anos de idade, “eu não tenho vergonha, eu acho tudo lindo, eu gosto da festa, de dançar aqui com minha família” relata Kerlen Victória dos Santos Pereira. Nascida e criada dentro do candomblé, neta da Ialorixá Maria de tempo, cresceu vendo a família cuidar da tradição. O pai Alabê, Ogam que comanda os outros Ogans além de cantar o xirê e a mãe é Kota do terreiro da nação Ketu e tem o cargo de Ya Jibonã, que é a mãe que cria os/as Yaos no roncó (camarinha), além do irmão mais novo que já dança e vibra ao som dos atabaques. Victória se diz feliz por poder participar, vestir as roupas, dançar, cantar e viver isso com a família unida.

Foto: Arquivo pessoal

As marcas da colonização podem ser vistas a distância, pois a educação pública nasceu da catequese jesuíta e essa forma de educar se mantém até hoje. É lamentável que alguns grupos ainda precisem esconder sua fé para evitar casos de violência física, pessoas de axé são apedrejadas, hostilizadas, marginalizadas e expostas.

Para as crianças e adolescentes, a escola é o ambiente mais cruel do preconceito, que parte dos alunos e também de professores. Os professores confundem o público com privado, esquecem que a escola é Laica e não são raras situações de abuso e violência com outras formas de acreditar e exercer a fé que é privada, se mistura com o espaço público da escola.

É preciso falar sobre intolerância religiosa, é preciso falar sobre liberdade, diversidade e racismo e dessa forma, tentar construir um convívio social equilibrado e livre de preconceitos e violências. As crianças precisam ser incentivadas a lidar com a diversidade que existe entre as pessoas, não só na fé, mas na vida, por elas representarem a continuidade, por isso são consideradas a maior riqueza dos grupos e tribos. Eis que é daí que vem a permanência, é daí que vem o futuro e a certeza de que a ancestralidade será mantida, não esquecida e celebrada.

Salve as Crianças! Saravá as Crianças!

 

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