Gilmar Santos (PT) entra na Justiça para anular Título de Cidadão Petrolinense concedido a Bolsonaro

O texto usado pelos autores do título foi retirado da internet, sem sequer ter sido indicada a fonte devida, a data e horário de acesso. O que configura plágio.

Foto: Ascom

O vereador professor Gilmar Santos (PT) protocolou, nesta quarta-feira (28), uma ação junto ao Poder Judiciário de Pernambuco para que o Decreto Legislativo nº 026/2019 que concede o título de Cidadão Petrolinense ao Presidente Jair Messias Bolsonaro seja anulado em caráter de urgência.

De acordo com o documento apresentado pelo parlamentar, o decreto viola o caput do artigo 198 do Regimento Interno da Câmara Municipal de Petrolina e ao seu §1º (primeiro parágrafo), bem como viola aos princípios da motivação e da finalidade, pois, não faz a devida indicação da projeção do homenageado e muito menos indica quais os seus serviços relevantes prestados ao município de Petrolina. O texto apresentado para justificar a honraria foi retirado da internet, sem sequer ter sido indicada a fonte devida, a data e horário de acesso, o que configura plágio.

Ao não especificar estes elementos o decreto torna-se ilegítimo em decorrência do desvio de finalidade com o que está disposto no artigo 198 do Regimento, que é explícito ao dispor os requisitos para concessão da honraria: “que se tenham projetado nas atividades educacionais, culturais, políticas, esportivas, científicas e sociais, em especial às que tenham prestados relevantes serviços ao município de Petrolina ou a sua gente”.

“Denunciar a ilegalidade dessa ação é uma forma de proteger a dignidade do nosso povo e evitar que a população de Petrolina seja obrigada, através da irresponsabilidade da maioria dos vereadores, a homenagear um sujeito declaradamente inimigo da democracia, comprometido em destruir a nação e todos os direitos sociais e políticas públicas conquistadas nesses últimos 20 anos”, declarou Gilmar Santos.

O Decreto da vergonha

O decreto 026/2019, de autoria do vereador Elias Jardim (DEM) e Osinaldo Souza (MDB), votado e aprovado no dia 04 de agosto (2020) pelos vereadores da bancada do prefeito Miguel Coelho foi a segunda tentativa do parlamentar em conceder a honraria ao presidente genocida.

O projeto foi apresentado anteriormente em maio de 2019, mas apesar de ter voto da maioria (bancada governista) na Câmara, foi retirado da pauta após pressão popular de estudantes, sindicalistas, professores, artistas, produtores culturais etc. que ocuparam a câmara e protestaram contra o projeto junto ao Mandato Coletivo representado pelo vereador Gilmar Santos (PT), que sempre se posicionou contrário à entrega de tal título, pois, segundo ele “o projeto além de desrespeitoso representa mais uma afronta contra a dignidade da população petrolinense, principalmente no atual cenário de calamidade na saúde pública do país ante a pandemia do novo coronavírus”.

Votaram contra o decreto: Gilmar Santos (PT), Cristina Costa (PT) e Paulo Valgueiro (PSD)

Câmara Municipal de Petrolina. Foto: Reprodução

Votaram à favor: Osório Siqueira (MDB), Aero Cruz (MDB), Maria Elena (MDB), Zenildo Nunes (MDB), Major Enfermeiro (MDB), Edilsão do Trânsito (MDB), Osinaldo Souza (MDB) Manoel da Acosap (DEM), Gilberto Melo (DEM), Ronaldo Silva (DEM), Ronaldo Cancão (DEM), Alvorlande Cruz (Republicanos), Alex de Jesus (Republicanos), Rodrigo Araújo (Republicanos), Cicero Freire (Republicanos), Ruy Wanderley (PSC) e Gabriel Menezes (PSL).

Bolsonaro merece mesmo o Título de Cidadão Petrolinense?

Neste momento, é preciso lembrar o amplo currículo de atrocidades do presidente que receberá o título:
1. Fim da faixa 1 do programa Minha Casa Minha Vida, que contemplava as famílias que tem renda bruta mensal de até 1.800,00 reais;
2. Rombo no cartão corporativo: até maio deste ano as despesas sigilosas vinculadas a Bolsonaro no cartão corporativo foram de R$ 3,76 milhões neste ano, segundo informações do Portal da Transparência. O valor representa um aumento de 98% em relação à média dos últimos cinco anos no mesmo período;
3. Corte no Bolsa Família: 158.452 bolsas foram cortadas pelo governo em março desse ano. 96.861 (equivalente a 61,1% do total) foram retiradas da região Nordeste;
4. Prioriza o interesse empresarial em detrimento do público: Ao mesmo tempo em que cortou Bolsa Família de 158 mil pessoas para investir o dinheiro na publicidade do governo, Bolsonaro liberou R$ 10 bilhões para planos de saúde privados;
5. Sucateamento da Educação e da Ciência – Além dos cortes destinados às referidas pastas, Bolsonaro pretende destinar parte da complementação adicional da União no Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para a área de assistência social, deixando a educação pública à mercê da própria sorte;
6. Cortes no Programa Minha Casa Minha Vida: A Proposta de Lei Orçamentária (PLOA) de 2020, encaminhada pelo governo para o Congresso Nacional, prevê um corte de R$ 1,9 bilhão, o que equivale a 41% das verbas investidas no programa;
7. Veto do projeto que dava preferência às mães no pagamento do auxílio emergencial;
8. Envolvimento com Milícias;
9. Eleito mundialmente como o pior gestor na pandemia do covid-19, Bolsonaro além de sonegar recursos para o combate ao vírus, desdenha da situação. “A gripezinha”, como chamou o presidente, já matou mais de 94 mil brasileiros e caminha para ser o país com maior número de mortes;
10. Crimes Contra a Humanidade: O presidente foi denunciado por crimes conta a humanidade e genocídio tanto no Tribunal Penal Internacional (TPI), quanto no Tribunal de Haia, o órgão judiciário da Organização das Nações Unidas (ONU).

Além do que foi citado o presidente já cometeu diversos crimes como a incitação ao crime e quebra de decoro. Na câmara dos deputados já se acumulam quase 50 pedidos de impeachment contra Bolsonaro.

Vereador Gilmar Santos manifesta pesar pelo assassinato de Pedro Gonzaga no Hipermercado Extra, no RJ, e diz que o crime é reflexo do racismo

“O que aconteceu com aquele jovem é o resultado da violência que nós chamamos de racismo”

Foto: Hyarlla Wany

Na última sessão plenária da Casa Plínio Amorim (19), o vereador professor Gilmar Santos (PT) dedicou parte do seu tempo na tribuna para manifestar pesar pelo assassinato do jovem Pedro Gonzaga, 19, que foi estrangulado na última quinta-feira (14) por um dos seguranças do Hipermercado Extra, no Rio de Janeiro.

“Todos os senhores e senhoras acompanharam esse fato que ocorreu no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, onde um jovem foi brutalmente assassinado pela truculência, a irresponsabilidade, a falta de preparo de um segurança na unidade do supermercado Extra. Esse jovem, Pedro Gonzaga, de dezenove anos, estava com a sua mãe que estava o encaminhando para uma unidade de CAPS (…) esse jovem portanto estava em tratamento, um jovem negro. Passaram no extra para um lanche e esse jovem teve uma crise, um surto, e em determinado momento, em contato com seguranças, esse jovem cai. Os seguranças levantam e ele cai mais uma vez. Mas na segunda vez que ele cai, um dos seguranças resolve imobilizá-lo, mas o imobiliza com muita violência. As pessoas que estavam próximas diziam “ele está sendo sufocado”, o jovem gritava “eu não consigo respirar” e mesmo diante do apelo dessas pessoas aquele segurança continuava pressionando, violentando, até o momento que sufocou e tirou a vida daquele jovem”

Gilmar também atrela o assassinato do jovem ao racismo estrutural que se faz presente em nossa sociedade e que se manifesta através da discriminação, da violência.

“Eu faço questão de colocar esse assunto aqui nessa Casa porque o que aconteceu com aquele jovem é o resultado da violência que nós chamamos de racismo. A cultura do racismo que trata o corpo negro como um corpo marginal, que trata o corpo negro, a pessoa negra como ameaça, que trata a carne negra como a carne mais barata da sociedade (…) E aí eu chamo a atenção dos senhores: Nós somos representantes do povo e não podemos nos calar em nenhum momento diante de uma violência promovida, orientada seja pela discriminação da raça, da orientação sexual, regional. E quero dizer aos senhores, hoje fica muito difícil, assim como aquele jovem, Pedro Gonzaga, respirar o clima atmosférico dessa sociedade orientada pelo preconceito, pelo ódio e pela intolerância. Aquele jovem está dentro dessa orientação nacional que autoriza para matar, que orienta para matar, especialmente os jovens que estão sem oportunidades nas nossas periferias”.

Na oportunidade, o vereador também cobrou a efetividade do projeto de lei que denomina o equipamento público Quadra Poliesportiva do bairro João de Deus como José Alex de Soares Silva, jovem negro que foi assassinado no dia 10 de janeiro de 2010 após ser confundido com um assaltante em Petrolina.

“Peço aos senhores que a gente não recue um minuto, um segundo diante de qualquer ato de violação, de violência a qualquer pessoa (…) O racismo é cientificamente falso, ele é moralmente condenado e é socialmente injusto. A vida de Pedro Gonzaga é a mesma vida de José Alex, morador do João de Deus que foi torturado, e que por sinal eu espero que a indicação que nós fizemos aqui para nomear a quadra da Praça da Juventude seja efetivada. Não é uma homenagem à aquele jovem, é uma denúncia à violência racial que ocorreu aqui nos porões da delegacia da Polícia Civil de nossa cidade. Não ao racismo! Não a qualquer forma de violência!” Conclui.