Não é uma simples e trágica coincidência que a decisão condenatória proferida por Sérgio Moro contra o ex-presidente Lula ocorra exatamente um dia após a aprovação pelo Senado Federal da Reforma Trabalhista.
Aliás, se tem alguma certeza que podemos ter nestes tempos conturbados, é de que nada é por acaso. Fora alguns atropelos e acidentes, tudo é muito bem pensado, organizado e realizado.
A cada dia fica mais nítido, pois vão se concretizando, os objetivos daqueles que retiraram do governo a presidenta Dilma Rousseff: diminuir o “custo Brasil”, por meio da redução de salários e direitos trabalhistas; interditar o PT, Lula e todos aqueles que tiverem condições de enfrenta-los; e realinhar a economia do país aos interesses estrangeiros e das grandes empresas.
Não existiu absolutamente nenhuma outra razão que não estivesse vinculada a estas para que o impeachment ocorresse. Afinal, até parece que Eduardo Cunha, Michel Temer, Aécio Neves, Fernando Bezerra Coelho e demais tiveram alguma vez preocupação com ética, moral, combate a corrupção ou com a melhoria da vida do povo.
E o roteiro, apesar de escrito a várias mãos e ter inúmeros atores, vai sendo cumprido sem maiores alterações. Primeiro, tiraram a Dilma, para rifar do caminho aquela que estava impedindo o avanço da agenda da “ponte para o futuro”. Com isso, além da mais brutal ofensiva já vista contra uma mulher que esteve em algum espaço de poder em toda a nossa história, radicalizou-se a criminalização ao PT e as forças populares.
No mesmo momento, passaram pelas comissões e sessões do Congresso Nacional a PEC 241 (depois PEC 55), que congelou por vinte anos os investimentos públicos em saúde e educação. Daí por diante, tivemos a desfiguração do ensino básico do país por meio da Reforma do Ensino Médio e o anúncio das duas principais bombas atômicas: A Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência.
Não fosse a revelação do óbvio, por meio da divulgação dos áudios criminosos com Temer e Aécio e as imagens de malas de dinheiro sendo carregadas por Rocha Loures para Temer, as bombas já teriam acertado o alvo.
No entanto, o óbvio e as provas não servem de nada quando implicam em mudar o roteiro do golpe. Basta a convicção de que tudo deve ser feito para que Lula e o PT sejam responsabilizados e extirpados da vida política do país.
Assim, assistimos na noite de ontem, cinquenta Senadores aprovarem o desmonte da legislação trabalhista do país, sem absolutamente nenhum pudor, em cumprimento ao roteiro do golpe e também em troca de gordas e fartas emendas orçamentárias.
Hoje, nos deparamos com a sentença de 238 páginas proferida por Sério Moro, condenando em primeira instância o ex-presidente Lula a mais de nove anos de prisão, pelo até hoje não explicado e não provado “Caso do Triplex”, enquanto Aécio Neves (PSDB), gravado pedindo propina, votava ontem em absoluta liberdade no Senado favoravelmente a Reforma Trabalhista.
Amanhã com toda certeza veremos os noticiários (em sua quase unanimidade propriedades de muitos dos que votaram ontem) apontarem sua mira em direção à próxima bomba. A pergunta que fica é: também deixaremos ela explodir?
*Patrick Campos é graduando em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Foi diretor da União Nacional dos Estudantes, é virginiano e rubro-negro pernambucano.