“Simulador de Escravidão”: MP também vai investigar quem baixou e avaliou jogo racista

No game, jogador é “proprietário de escravos”, estimulado a obter “lucro” e contratar guardas para evitar rebeliões

A investigação sobre o jogo “Simulador de Escravidão”, que estava disponível na Play Store, loja de aplicativos do Google, teve desdobramento: o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) também vai investigar as pessoas que baixaram o jogo e deixaram comentários e avaliações racistas.  

O jogo, que foi desenvolvido pela Magnus Games e tinha mais de mil downloads, tinha 70 avaliações e muitas delas se queixavam do fato de o app ter poucas possibilidades de agressão. As pessoas podem ser enquadradas na Lei do Racismo, que desde janeiro também pune o chamado racismo recreativo. 

O Google tem até o final desta semana para responder os questionamentos do Ministério Público que, depois irá decidir se instaura um Procedimento Investigatório Criminal.

O pedido de indenização foi protocolado neste sábado (27) pela Educafro no Foro Central Cível do Rio de Janeiro e pede reparação de dano moral coletivo. 

De acordo com a Educafro, os R$ 100 milhões de indenização devem ser revertidos para o Fundo Nacional de Defesa do Consumidor e ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos. 

Após denúncia, Google retira do ar jogo racista


Em meio a debates sobre racismo no mundo do futebol em razão a sucessivas agressões contra o jogador brasileiro Vini Jr., o Google mantinha na sua loja de aplicativos um jogo chamado ‘Simulador de Escravidão’ até o final da manhã desta quarta-feira (24).

O game podia ser baixado pela Play Store e permitia que os usuários simulassem serem proprietários de escravos, podendo castigá-los ao longo das partidas. 

O jogo apresentava duas modalidades: tirana e libertadora. Na modalidade tirana, o objetivo era obter lucro e impedir fugas e rebeliões dos escravos. Já na modalidade libertadora, o objetivo era lutar pela liberdade e alcançar a abolição da escravidão.

Crime de racismo

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) classificou o jogo como “desumano, nojento, estarrecedor e criminoso”. Ele informou que vai entrar com uma representação junto ao Ministério Público por crime de racismo e levar o caso até as últimas consequências, “de preferência a prisão dos responsáveis”.

Silva, que é relator do Projeto de Lei 2630/2020, o PL das Fake News, comentou que o caso deixa claro a urgência em regular o ambiente digital.

“A própria existência de algo tão bizarro à disposição nas plataformas mostra a URGÊNCIA de regulação do ambiente digital. O PL 2630 é um passo nesse sentido ao regular parte desse ecossistema, que é mais amplo. A regulação das plataformas digitais é um imperativo da civilização contra a barbárie!”, escreveu.

“Fins de entretenimento”

A produtora do game, Magnus, afirmou que o jogo foi desenvolvido para fins de entretenimento e que condena a escravidão na vida real. Embora o jogo ainda esteja listado na plataforma de aplicativos do Google, os usuários não podem mais baixá-lo. Aqueles que já possuíam o aplicativo em seus smartphones podem continuar jogando.

O jogo foi lançado no início da semana e estava disponível pelo menos desde o dia 22 de maio para aparelhos Android. A dinâmica começou a viralizar nas redes sociais nesta quarta-feira.

Ministério Público cobra Google e abre investigação
Depois de causar indignação e revelar mais um crime propagado sem restrições por uma big tech, o jogo eletrônico Simulador de Escravidão entrou na mira do Ministério Público Federal (MPF-RS) e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). 

O MPF-RS instaurou inquérito para investigar o app, que até esta quarta-feira (24), estava disponível na Google Play Store, até ser retirado do ar. “Diante disso [comentários racistas], foi expedido ofício para que a empresa Google preste informações específicas sobre o jogo. Trata-se de jogo em que o usuário faz o papel de proprietário de escravos e pode escolher entre a possibilidade de fazer lucro e impedir fugas e rebeliões ou a de lutar pela liberdade e chegar à abolição”, diz a nota. 

Segundo a desenvolvedora do jogo, a MagnusGames, mais de mil usuários baixaram o app e muitos comentários racistas foram registrados na página do game na Play Store.

JOGO RACISTA

No jogo, que ficou disponível por mais de um mês na plataforma, o usuário é um “proprietário de escravos” e o jogador é estimulado a obter “lucro” e contratar guardas para evitar rebeliões. Há até uma opção para que o usuário explore sexualmente as pessoas colocadas sob seu poder dentro do mundo virtual.

Desrespeitando a história do Brasil e, principalmente, a população preta brasileira, o “game” mostra imagens de pessoas acorrentadas, inclusive um homem negro, que aparece coberto de grilhões em uma estética semelhante a um desenho animado. Na capa, uma gravura histórica retrata um homem branco, em roupas elegantes, ao lado de um homem negro escravizado seminu.

Em São Paulo, o Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gecradi), do Ministério Público estadual, instaurou uma Notícia de Fato sobre o aplicativo. No documento, o MP aponta a existência de mais de mil downloads já feitos em um curto intervalo de tempo assim como discurso de ódio nos comentários da plataforma do Google.

“A empresa deverá informar, em três dias, data, horário e plataforma(s) de disponibilização do game, enviando cópia integral de todos os documentos e do procedimento interno administrativo de solicitação de aprovação feito pelo desenvolvedor”, assinala o MP-SP.

O Ministério Público de São Paulo quer ainda ter acesso ao e-mail que foi cadastrado pelo responsável do game e às informações sobre a política de autorização para publicação dos aplicativos disponíveis no Google Play.

Para evitar novos episódios como o deste jogo, o Ministério da Igualdade Racial (MIR) entrou em contato com o Google para elaborar, de forma conjunta, um filtro que não permita a disseminação de discursos de ódio, intolerância e racismo. 

O que diz o Google?

Em nota, a empresa disse que removeu o jogo de sua loja de aplicativos e que toma medidas para coibir a incitação ao ódio e violência. “Temos um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos apps que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas”.

Fonte: https://revistaforum.com.br/