“O título de cidadão petrolinense deve ser apresentado a quem prestou serviços educacionais, culturais, científicos etc., o que não é o caso desse presidente”, diz vereador Gilmar Santos (PT)
O Projeto de Decreto Legislativo Nº 026/2019, do vereador Elias Jardim (PHS), que propunha título de cidadão petrolinense a Jair Bolsonaro, e que seria votado durante a sessão plenária desta quinta-feira (23), foi retirado de pauta após pressão popular.
O projeto foi apresentado na Casa Plínio Amorim na última terça-feira (21) e desde então vem causando polêmica na cidade. A justificativa apresentada por Elias é de que o título tem a finalidade de “prestar uma justa homenagem ao Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro pelo seu grande esforço para retirar o Brasil de uma grande crise”. Porém, o vereador “esqueceu” de falar que o presidente tem o maior índice de rejeição no país em comparação com os governos anteriores durante o mesmo período de governo. No Nordeste, o índice de rejeição do presidente é de 40%, segundo o Ibope.
Durante a sessão, o vereador professor Gilmar Santos (PT) disse que o projeto fere a formalidade do regimento interno da Casa, que em seu artigo 198 diz que o título de “cidadão petrolinense” deve ser concedido a pessoas (brasileiras ou estrangeiras radicadas no país) que se tenham projetado nas atividades educacionais, culturais, políticas, esportivas, científicas e sociais, em especial às que tenham prestado relevantes serviços ao município de Petrolina ou a sua gente”. O que, de acordo com o parlamentar, vai contra as ações do presidente que viria a ser homenageado.
“O título de cidadão deve ser apresentado a quem prestou serviços educacionais, culturais, científicos etc., e nós percebemos que o presidente Jair Bolsonaro do ponto de vista educacional é ignorante; do ponto de vista da cultura é preconceituoso, intolerante; do ponto de vista político é incompetente; do ponto de vista cientifico é incompreensível; do ponto de vista esportivo é perigoso e socialmente violento. Como é que a gente vai apresentar um título de cidadão a uma pessoa dessas? É até um desrespeito com a população de Petrolina. Nós temos motivos de sobra para repudiar esse projeto” disse e completou “Não faz sentido conceder título de cidadão petrolinense a uma pessoa que presta mais desserviços do que serviços ao povo brasileiro e claro, ao povo de Petrolina”.
Indignados com a homenagem ao presidente, manifestantes (estudantes, sindicalistas, professores, artistas, produtores culturais etc) ocuparam a câmara e protestaram contra o projeto, que teve vaias como resposta da população.
“Já se percebe que o presidente não é bem-vindo, principalmente pelas ações que tem movido contra país. O presidente está mais preocupado em fazer homenagens e referências aos Estados Unidos do que propriamente cuidar da casa dele. deveria ser o contrário, a gente deveria ter mais amor pelo país e assumir realmente as políticas necessárias para valorizar a dignidade da nossa população” indagou Gilmar.
Robson Nascimento, que é coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (SINTEPE) em Petrolina, disse que conceder título de cidadão petrolinense é uma “proposta incabível, primeiro que o presidente tem cinco meses de governo e não tem nenhum serviço prestado à sociedade petrolinense, o regimento da casa diz que para ter o título tem que ter serviço prestado ao município e nós não verificamos isso, pelo contrário, o governo só tem apresentado propostas que massacram a sociedade, como a reforma da previdência, o corte de recursos das universidades, os projetos de armamento da sociedade. O projeto foi retirado de pauta, mas nós vamos continuar vigilantes, vamos permanecer atentos à essa pauta porque nós não vamos permitir que Petrolina conceda esse título ao presidente que acabou de ser empossado”.
Ao lembrar dos ataques do presidente ao Nordeste durante o período das eleições, a estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) campus Juazeiro, BA, Luana Brandt, afirmou “ um presidente que não está nem aí para o Nordeste, que já deu várias declarações contra a região dizendo que não era presidente da gente e que vota pautas contra as universidades não merece título de cidadão petrolinense (…) É incabível dar o título para uma pessoa que nunca pisou o pé aqui, que nunca fez nada de bom pela nossa cidade”.
Segundo Bruno Melo, estudante de Artes Visuais da Univasf, não há nenhum argumento que justifique esse título. “Uma pessoa que está há trinta anos na política e nunca fez nada pelo Nordeste; que defende uma reforma da previdência que vai penalizar o trabalhador rural, que corta auxílios dos pescadores de Sobradinho-BA, corta verbas da educação, o que consequentemente pode fechar a Univasf, que homenageia miliciano, que acoberta a corrupção, não tem nenhuma justificativa para receber esse título” disse.
“Bolsonaro já desrespeitou diversas vezes o povo nordestino e por Petrolina fazer parte do Nordeste eu acho que é uma afronta ao povo Petrolinense (…)Embora ele seja o presidente, ele não é o presidente do nordeste, foi dado esse recado na época da eleição e acho que os vereadores que já estavam contra esse título, da oposição principalmente, estavam com respaldo de grande parte da população” disse o músico Maércio José.
Na oportunidade, o vereador Gilmar Santos apresentou uma moção de repúdio oral às diversas ações de Bolsonaro, que envolvem desde a reforma da previdência e os cortes na educação, até as declarações LGBTfóbicas, racistas e misóginas do presidente. Até a próxima sessão, a moção deverá ser apresentada formalmente.
Sobre o protesto, disse o parlamentar: “A gente acredita que essa é uma vitória da população, da própria opinião pública da sociedade petrolinense, que não reconhece esse título, acha incoerente, principalmente pelo histórico daquele que seria homenageado, o presidente Jair Bolsonaro”.
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