Petrolina é filha do sol. Muito provavelmente diriam os povos da terra, que habitaram esse lugar há milhares de anos. Das serras e serrotes, das margens do rio Opará ou, para os cristãos, São Francisco, o movimento do sol, visto daqui, é um dos mais lindos espetáculos da natureza. Depois da ponte Presidente Dutra, é muito comum encontrar nativos e viajantes em momento de verdadeira contemplação.
A violência dos colonizadores europeus, e dos seus descendentes, de Gárcia D´Ávia aos Souza Coelho, exterminou indígenas e a própria natureza original. Tudo em nome de um progresso, que colocou gado no lugar de gente, que concentrou terras nas mãos de poucos, que transformou bens naturais em mercadoria. Assim surgiram os mandatários e os serviçais, os fazendeiros e os vaqueiros, os coronéis e os capatazes. Petrolina surgiu desse processo histórico. Por isso tão admirada e querida. No entanto, tão contraditória, desigual e conflituosa.
Uma das primeiras obras do atual prefeito, Miguel Coelho, representante dessa herança colonial, foi instalar na orla de Petrolina, às margens do Rio São Francisco, um grande painel com a frase “Eu Amo Petrolina”, com direito a um coração no lugar do verbo. Chegado a jogadas de marketing, do tipo João Dória e, também, seguidor da cartilha do golpe, o jovem administrador apresenta a cidade sob o slogan do “Novo Tempo”.
Não se sabe ao certo o que passa na cabeça de quem tira foto em frente ao tal painel do amor à Petrolina. Porém, vale pensar sobre o que é amor, no sentido do compromisso, e o que são sensações momentâneas transformadas em fotos para as redes sociais.
Quem ama Petrolina não pode se contentar com fotos às margens do São Francisco, e não lutar para salvar o rio. Quem diz amar Petrolina deve lembrar que o amor se expressa em exercício cotidiano de cuidado. E, nesse caso, não combina com degradação, lixo, esgoto e privatização.
Quem ama Petrolina sabe que por aqui chegaram e vivem milhares de famílias. Todas cumprindo importante papel para a construção da cidade. É lugar de oportunidades, de gente trabalhadora, com vocação para a democracia. Porém, contrário ao amor, o poder econômico, oligárquico e coronelista, transformaram a cidade em centro de exploração, de maioria pobre, moradores de periferias abandonadas, submetida a humilhações, em hospitais públicos, delegacias e penitenciária, em estatísticas nos cemitérios, ao esquecimento da história. Quem realmente ama Petrolina, luta contra tudo isso.
Muitos que dizem amar Petrolina, também se orgulham com a ideia de que somos um “oásis” no sertão, ou “Califórnia sertaneja”, e ainda a “capital da fruticultura irrigada”. Porém, quem tem compromisso com Petrolina, sabe que a nossa agricultura está tomada por agrotóxico, por um modelo de desenvolvimento que explora trabalhadores, pequenos produtores e consumidores, expostos a intoxicações, a depressões, ao câncer, ao suicídio. Quem realmente ama Petrolina, luta por um outro modelo de agricultura, sem veneno, pela vida.
Quem diz amar Petrolina, sabe que essa terra acolheu e acolhe muita gente, de todos os lugares, origens e identidades. Quem realmente ama e está comprometido com Petrolina, acolhe e convive com todos e todas, sem discriminações ou intolerâncias, sem machismos, homofobias ou fanatismos religiosos. Afinal, o sol nasce para todos e todas.
Quem diz amar Petrolina, sonha com um novo tempo, ou faz disso um slogan. Quem realmente está comprometido com Petrolina, luta para que as promessas dos políticos não se percam nas propagandas eleitorais. Luta para que o novo tempo seja mais democrático e menos midiático. Que seja de ações concretas e menos palavras ao vento. De participação popular nas decisões governamentais e sem negociações em gabinetes suspeitos. De concursos públicos, de valorização de servidores, e sem arrumadinhos para cabos-eleitorais. De respeito ao ambiente e à dignidade do nosso povo, sem golpismos (fora Temer!), autoritarismos e violência.
Quem realmente ama está comprometido com Petrolina, luta para que, assim como o sol, todos e todas possam brilhar. Esse é o compromisso que assumimos com o nosso Mandato Coletivo. Parabéns, cidade querida, por seus 122 anos! Parabéns, povo batalhador!
Gilmar Santos – Professor de História e vereador na Câmara Municipal de Petrolina