Gato por lebre, ou melhor, por Coelho

Foto: Fernando Pereira

Parece remontar da Espanha a expressão “comprar gato por lebre”, quando se tenta dizer que foi feito um negócio ruim. Muitas são as possíveis explicações, mas o fato é que ao pedir carne de lebre, as pessoas recebiam em seu lugar, carne de gato. Nada muito diferente da expressão “espetinho de gato” utilizada hoje também tão frequentemente para se referir a venda de carne ruim ou diferente daquela que foi pedida.

Em todos os casos, trata-se da mesma questão: enganação e mentira. Achar que foi feito um bom negócio, quando na verdade se fez um péssimo. Que expressão melhor então para falar da monumental mentira contada ao povo brasileiro para justificar a injustificável venda do patrimônio público por meio de privatizações? Estão querendo nos vender gato por lebre. Ou melhor, neste caso, por Coelho.

Particularmente referente a venda da Eletrobrás, o petrolinense Ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho, conforme informações do Blog da Folha¹ disse que “apesar das críticas que têm surgido nas redes sociais, a previsão é de que a médio prazo a venda resulte em uma conta de energia mais barata [pois] sem as amarras de uma empresa pública, vai ser mais eficiente e mais ágil”.

Não bastasse a absoluta falta de preocupação com a soberania energética do país, uma vez que se considera trivial e passível de entrega para a iniciativa privada a empresa pública responsável pelos serviços de geração de energia, o então Ministro de Temer parte de uma premissa extremamente equivocada.

É mentira que “sem as amarras de uma empresa pública, [o serviço] vai ser mais eficiente e mais ágil”, basta ver o caso da OI e da maioria das companhias telefônicas após a privatização. Temos hoje um dos piores e mais caros serviços telefônicos e de internet do mundo. Sem falar no fato de que só no caso da OI, estamos falando de um pedido de recuperação judicial por dívidas que superaram os R$ 80 Bilhões. Portanto, o problema nunca foi o fato de ser pública, o problema sempre foi o fato dos governos da época pouco se importarem com o serviço público.

Quem assistiu uma plataforma da Petrobrás afundar por falta de manutenção lembra do que o Governo Fernando Henrique Cardoso fez com aquela empresa, que segundo eles, assim como supostamente a Vale do Rio Doce, dava prejuízos. Nos venderam gato por lebre lá e querem nos vender de novo agora.

Sem nenhuma dúvida, os serviços públicos precisam melhorar muito, mas a solução para um problema de carrapato num animal não pode ser sacrificá-lo. Se trata, se cuida e se busca fazê-lo melhorar. Assim é com as empresas públicas. Vejamos os exemplos das Universidades Federais. As mesmas que os Governos FHC diziam, seguindo a cartilha do Consenso de Washington, que não precisavam existir, pois significava gastar dinheiro para “reinventar a roda”, uma vez que o conhecimento já tinha sido produzido nos “países de primeiro mundo” e nos bastava importar o conhecimento deles e exportar soja e suco de laranja para pagar a conta.

Com o fim daquela insana política neoliberal na educação, que por mais de uma década manteve o ensino superior público no país limitado a um número infinitamente menor que a demanda de jovens em idade universitária, o país deu um salto com a expansão das vagas por meio do REUNI que triplicou a quantidade de vagas públicas no país, com investimento em permanência, ensino, pesquisa e extensão que, para ficarmos com exemplo mais recente, revolucionou o tratamento de queimaduras com a descoberta do uso da pele de tilápia.

Não é mais compatível com o sentimento e a compreensão média da população que o ensino superior público é ruim, pelo contrário, as Universidades Públicas do país produzem tecnologia de ponta, desenvolvem ciência em todas as áreas do conhecimento e formam um conjunto de profissionais da saúde, das engenharias, do direito e de todos os setores, com uma característica fundamental, a de que são trabalhadores, pobres e de origem popular que estão se formando e não apenas os ricos de sempre.

O público, portanto, pode e deve ser muito melhor que o particular. O discurso hipócrita do Ministro de Temer, Coelho Filho, é um discurso vindo da Casa Grande, de quem não diferencia o público do privado, pois sempre tratou o primeiro como este segundo. É daqueles que além de não admitirem perder seus privilégios de andar em avião vazio e deter o que de melhor os trabalhadores produzem, sabe que precisam ganhar o máximo possível no menor espaço de tempo que dispõem. Por isso que não basta apenas “tratar” o público como privado, precisam de fato transferir o público para o privado.

E precisam fazer isso em velocidade recorde, pois sabem que o tempo deles está contado. A malfadada reforma política busca dar sobrevida a esse projeto de desmonte, garantindo a permanência dos que lá estão. No entanto, entre eles e a continuidade no poder está o povo e este, não pode admitir quieto que o Brasil seja vendido a preço de banana para deixar mais rico os poderosos de sempre, que como o senhor Coelho Filho, montam nas costas de quem trabalhada para acenar para o vizinho e planejar o próximo golpe.

 

*Patrick Campos é graduando em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Foi diretor da União Nacional dos Estudantes, é virginiano e rubro-negro pernambucano.

http://pontocritico.org/