INPC confirma reajuste do salário mínimo abaixo da inflação acumulada em 2019

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor calculado pelo IBGE ficou em 4,48%. Reajuste do mínimo foi de 4,1%

Valor é referência para mais de 49 milhões de pessoas e serve de base para pagamentos de aposentadorias, pensões e outros benefícios / Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que estima a inflação acumulada dos principais itens de consumo das famílias brasileiras, fechou o ano de 2019 em 4,48% – acima do reajuste do salário mínimo concedido pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Isso significa que a correção do mínimo, fixada em 4,1%, vai representar perda no poder de compra para os trabalhadores em 2020, repetindo o cenário dos últimos dois anos. 

A não valorização real do mínimo pelo terceiro ano consecutivo causa impactos em toda a cadeia econômica. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (Dieese), o valor é referência para mais de 49 milhões de pessoas e serve de base para pagamentos de aposentadorias, pensões, benefícios assistenciais, abono salarial e seguro-desemprego.

Para compensar a inflação o mínimo, que hoje é de R$ 1.039, deveria ser R$ 1.043. Pelas contas do Dieese, mesmo assim o valor seria defasado. O Departamento aponta que para suprir as reais necessidades de uma família, o salário deste ano deveria chegar a R$ 4.021,39. 

Bolsonaro apresenta “cálculo fake”

Desde 2011, a partir de uma proposta da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), o reajuste do salário mínimo levava em consideração, além da inflação, o Produto Interno Bruto (PIB).

No início de janeiro, ao comentar o novo valor do mínimo, Jair Bolsonaro chegou a afirmar que o reajuste ficou acima do que seria instituído caso a proposta de Dilma fosse levada em consideração.

Na ocasião, o Partido dos Trabalhadores rebateu as afirmações e lembrou que o governo não usou a inflação do ano todo para calcular a correção. Agora, o INPC consolidado confirma que o piso ficou abaixo da alta dos preços. 

Alimentos, transporte e saúde mais caros

A inflação de 2019 ficou acima dos 3,43% registrados no ano anterior. O resultado foi influenciado pelos preços de alimentação e bebidas, que apresentou alta de 6,37%. Esse é justamente o setor que mais impacta o orçamento das famílias com renda de até cinco salários mínimos.

A variação nos preços do transportes foi de 3,57%, puxada pelo aumento das passagens dos ônibus urbanos e da gasolina. O setor de saúde teve alta 5,41%, reflexo direto da elevação de 8,24% nos valores de planos de saúde. 

Dezembro tem alta histórica

A alta registrada somente no mês de dezembro no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo  foi de 1,15%, maior resultado para o período desde 2002. 

O aumento também foi puxado pelos preços dos alimentos, que subiram 3,38%. Transportes e despesas pessoais também registraram alta. 

Regionalmente a maior variação foi registrada em Belém (1,78%). Rio Branco teve a menor alta  (0,60%). 

Fonte: Brasil de Fato

Texto: Nara Lacerda|Edição: Rodrigo Chagas

2019: ano foi marcado por resistência popular a retrocessos

Em ano marcado por crimes ambientais e retirada de direitos, população buscou saídas para resistir aos ataques


Mesmo diante dos avanços de políticas de caráter neoliberal, que retiram direitos a torto e à direta, houve bastante mobilização / @desenhosdonando

2019 está chegando ao fim e a expectativa para o ano que vem é bastante incerta, principalmente diante do primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro e seus ataques à classe trabalhadora. Como noticiamos aqui ao longo do ano, 2019 foi permeado por uma série de ataques à classe trabalhadora, crimes ambientais, violências e desinformação. 

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), a fome voltou a crescer no Brasil, cinco anos após o país sair do Mapa da Fome. Somando-se a essa informação, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), referência em políticas de combate à fome, teve as portas fechadas no início do governo Bolsonaro. 

Em protesto ao fechamento do CONSEA, e em apoio à luta pela produção de alimentos agroecológicos, diversos coletivos e movimentos organizaram em Recife e em mais 40 cidades o chamado “Banquetaço”. Milhares de refeições foram preparadas durante uma semana, com alimentos doados por coletivos, associações e movimentos populares. 

Ao passo que, na cidade, as pessoas se mobilizavam em defesa de uma alimentação saudável e agroecológica, no campo, o governo liberou durante todo o ano 349 novos agrotóxicos. Foi o maior número de liberação dos últimos 10 anos.

Os crimes ambientais também chocaram e mobilizaram a sociedade. No início do ano, o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), que pertencia à empresa Vale, deixou dezenas de mortos e um impacto profundo nos rios e na vida daquelas pessoas que sobreviviam dele. Na região amazônica, o fogo do agronegócio tomou conta das matas durante dias, enquanto o governo colocava a culpa nas ONGs. Já no Nordeste, o óleo manchou todo o litoral e nosso povo tentou recuperar nos braços, literalmente, todo o estrago causado pelo óleo e pela omissão do governo diante do desastre que tem provocando, inclusive, fome aos pescadores e marisqueiras aqui do estado.

Mas, apesar de tudo isso, é importante lembrar do exemplo que milhares de estudantes, professores e professoras deram ao ir às ruas contra o corte de 30% na educação pública e contra a Reforma da Previdência. Os cortes foram contidos, alguns recursos foram liberados, mas a reforma passou – mesmo que com uma série de mudanças em seu texto original – e a luta contra a precarização do trabalho permanece.

No âmbito da arte e comunicação, tivemos casos de censuras a filmes e ameaças aos veículos de comunicação, fechamento da TV Escola e redução do financiamento para produção audiovisual brasileira. 

Em meio a esse cenário foi que, aqui em Pernambuco, surgiu uma iniciativa que mistura política e arte, o Movimenta Cineclubes e Organização Popular, que vem desde o início de 2019, fazendo atividades de popularização do cinema e debates sobre temas atuais em cerca de 20 bairros do Recife e da RMR.

Não é fácil fazer um breve balanço de 2019 porque este ano foi um ano de intensidades em vários aspectos. Mesmo diante dos avanços de políticas de caráter neoliberal, que retiram direitos a torto e à direta, houve bastante mobilização, ações e iniciativas populares, momentos que trouxeram fagulhas de esperança que devem servir de ânimo para os desafios de 2020.

Fonte Brasil de Fato| Edição: Marcos Barbosa