Assassinatos de negros aumentam 11,5% e de não negros caem 12,9%, mostra Atlas da Violência

O estudo foi elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde

Os assassinatos no Brasil diminuem apenas para uma parte da população. A taxa de homicídios de negros no Brasil saltou 11,5% de 2008 a 2018 (de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes), enquanto a morte de não negros caiu 12,9% no mesmo período (de 15,9 para 13,9 por 100 mil), de acordo com o Atlas da Violência 2020, divulgado nesta quinta-feira (27).

O mesmo padrão é repetido entre as mulheres: o assassinato de negras cresceu e o de brancas caiu.

O estudo foi elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde. Os negros são representados pela soma de pretos e pardos e os não negros são os brancos, amarelos e indígenas, segundo a classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O número de homicídios em geral caiu em 2018 no país, quando foram registrados 57.956 casos, o que corresponde a uma taxa de 27,8 mortes por 100 mil habitantes -o menor nível de assassinatos em quatro anos e queda de 12% em relação ao ano anterior. A diminuição aconteceu em todas as regiões, em 24 estados, com maior intensidade no Nordeste. ​

Entre os anos de 2008 e 2018, foram registrados 628 mil homicídios no país, sendo 91% homens, 55% na faixa entre 15 e 29 anos, e pico de mortes aos 21 anos de idade. O Atlas verificou a baixa escolaridade, com no máximo sete anos de estudo entre as mortes. Os dias de maior incidência dos crimes foram sábados e domingos.

Entre o total de assassinatos, os negros representaram 75%. Segundo o Atlas, a discrepância entre as raças nas taxas de homicídio significa que, na prática, para cada indivíduo branco assassinado naquele ano, 2,7 negros foram assassinados.

Há estados em que a diferença é ainda maior: em Alagoas, por exemplo, para cada não negro que sofreu homicídio, morreram 17 negros.

Já entre os homens jovens, considerando todas as raças, embora as taxas sigam elevadas, há alguns indicativos de uma melhora lenta e gradual desses índices, segundo o Atlas.

Em cinco anos (2013 a 2018), a taxa nacional de homicídios de jovens homens cresceu 2,5%, o que sugere um aumento menos acelerado em comparação ao período de 2008 a 2018, quando a variação foi de 13,5%.

Em relação ao último período analisado, de 2017 a 2018, o índice caiu 14% – o que, segundo o estudo, não é suficiente para que se possa afirmar uma reversão nesse quadro histórico.

Entre as mulheres, uma foi assassinada a cada duas horas no país em 2018. Foram 4.519 pessoas que sofreram homicídio, o que representa uma taxa de 4,3 para cada 100 mil habitantes do gênero feminino. Seguindo a tendência de redução da taxa geral, a taxa de homicídios contra mulheres teve queda de 9% entre 2017 e 2018.

Mas a situação melhorou apenas para as mulheres brancas, já que a grande maioria (68%) era negra -a taxa que é praticamente o dobro na comparação com não negras.

Em 11 anos anos, a taxa de homicídio de mulheres negras cresceu 12,4%; já a de não negras caiu 11,7%.

Nesse mesmo período, o Brasil teve um aumento de 4% nos assassinatos de mulheres. Em alguns estados, a taxa de homicídios em 2018 mais do que dobrou em relação a 2008: é o caso do Ceará, cujos homicídios de mulheres aumentaram 278%, de Roraima (+186%) e do Acre (126%).

Motivação das mortes

É consenso entre especialistas que a queda dos assassinatos em geral no país em 2018 não pode ser explicada por um só fator. O economista Daniel Cerqueira, coordenador da pesquisa no Ipea, afirma que há quatro razões principais.

Primeiro, um trabalho específico de governos estaduais, que criaram políticas em seus estados para a redução de assassinatos, em geral com coordenação do trabalho de polícias, e conseguiram baixar suas taxas de violência. É o caso do Espírito Santo ou de Pernambuco, com os programas Estado Presente e Pacto pela Vida, respectivamente.

Em segundo lugar, há uma espécie de armistício, velado ou não, entre as facções criminosas. Isso após um conflito entre PCC e Comando Vermelho que estourou em 2016 e chegou ao seu ápice em 2017, deixando um rastro de sangue sobretudo no Norte e no Nordeste do país, o que elevou o índice de homicídios naquele ano.

Por fim, há o aspecto demográfico, com a queda de natalidade no Brasil, que diminui a proporção de jovens no país, e o Estatuto do Desarmamento, que tirou armas de circulação, mas vem sendo desmontado pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) desde o ano passado, através de decretos.

Segundo o estudo, “a flexibilização da política de acesso a armas e munição tem uma forte influência no aumento dos índices de crimes violentos letais intencionais”.

“Até o momento, foram onze decretos, uma lei e quinze portarias do Exército que descaracterizaram o Estatuto, geraram incentivos à disseminação às armas de fogo e munição, e impuseram obstáculos à capacidade de rastreamento de munição utilizada em crimes. Como uma arma com boa manutenção pode durar décadas, as consequências desta política armamentista se perpetuarão no longo prazo”, enumera o Atlas.

Outra explicação pode estar no percentual de mortes violentas com causa indeterminada, que aumentou 25,6% em 2018, segundo o Atlas da Violência.

“O ano é recordista nesse indicador, com 12.310 mortes cujas pessoas foram sepultadas na cova rasa das estatísticas, sem que o Estado fosse competente para dizer a causa do óbito, ou simplesmente responder: morreu por quê?”, diz o estudo.

As mortes sem causa conhecida aparecem quando não há o correto preenchimento das informações das pessoas e dos incidentes, e sobretudo quando não se consegue estabelecer a causa das mortes violentas: homicídios, acidentes de trânsito ou suicídios.

A perda de qualidade das informações em alguns estados “chega a ser escandalosa”, diz Cerqueira. É o caso de São Paulo, que, em 2018, registrou 4.265 mortes violentas com causa indeterminada. Outros estados também despontam nesta lista, como Roraima e Bahia.

Segundo o estudo, “nos últimos anos tem havido um movimento de restrição ao compartilhamento de informações e transparência por parte de algumas agências, que se apegam à ideia de ‘sigilo’, desconsiderando que a informação correta é um bem público da maior importância”.

Apesar da redução recente, entretanto, o Brasil ainda é um dos países mais violentos do mundo, com taxas de assassinatos muito maiores que a de países como México, Argentina, EUA ou Portugal.

De São Paulo a Roraima

A análise do Atlas da Violência mostra também que a taxa de homicídio varia muito entre os estados. Em 2018, vai de 8,2 por 100 mil habitantes em São Paulo até 71,8 por 100 mil em Roraima.

Além disso, embora os estados do Norte e Nordeste tenham tido a maior diminuição nas taxas de homicídio, os dez estados com os maiores índices são das duas regiões.

Os dois estados com maior aumento na taxa de homicídios em 2018, em relação ao ano anterior, foram Roraima (+51%) e Amapá (+7%). De acordo com o estudo, a violência nesses locais foi influenciada pela relação com os países vizinhos, como a Venezuela e a Guiana Francesa.

Já os estados com menores taxas de homicídio são São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais. Mas no caso do primeiro, o relatório faz a ressalva de que houve piora substancial da qualidade dos dados paulistas.

“O número de óbitos violentos por causa indeterminada em São Paulo é superior ao número de homicídios registrados, fato absolutamente incomum, que causa grande preocupação”, escreveram os pesquisadores.

Os três estados com maior diminuição na taxa de homicídios foram Acre (-24%), Pernambuco (-22%) e Espírito Santo (-22%).

O mais longevo período de redução das taxas de homicídio, no entanto, vem acontecendo na Paraíba. Desde 2011, quando foi implantado o programa Paraíba Unidos pela Paz, por sete anos consecutivos a taxa de homicídio vem diminuindo.

O programa segue os mesmos princípios do Pacto pela Vida (PE) e do Estado Presente (ES). Eles mesclaram três ingredientes: política orientada por resultados, com planejamento e liderança pessoal de governadores; integração e qualificação do trabalho policial, com ênfase na inteligência; e ações de prevenção social focalizadas nos jovens residentes em territórios conflagrados e com alta vulnerabilidade social.

Texto: Thaiza Pauluze – Folhapress

O racismo destrói as entranhas do Brasil

É preciso assegurar que todos os negros e negras no país tenham direitos iguais, pois, a desigualdade é o motor que impulsiona toda essa engrenagem, de maneira perversa, injusta, cruel

O racismo estrutural existe sim, e corrói as entranhas da vida brasileira há muito, muito tempo. Tempo demais. É inaceitável que continuemos assim. Nossa sociedade paga um alto preço pela normalização do racismo e isso é inadmissível; e fazemos quase nada para estancar esta ferida que sangra todos os dias: quando um menor é assassinado à queima-roupa, uma mãe perde seu filho para o tráfico, milhares de negros são demitidos, crianças negras são violentadas, povos quilombolas perdem suas terras, mães negras são insistentemente desrespeitadas em seus trabalhos como domésticas em casas de patroas brancas, e tantos outros fatos horrorosos que crescem exponencialmente. Todos os dados estatísticos apontam para números desfavoráveis e mais elevados quando consideradas as populações negras.

Em que ponto estas questões não incomodam cada cidadão brasileiro, pode ser considerado um mistério desafiador, mas que não deve ser ignorado. Não deveríamos jamais voltar para nossas casas, sentar confortavelmente nos sofás, jantarmos, assistirmos os jornais de canais abertos (contaminados do mesmo racismo estrutural e que só perpetuam a perspectiva conservadora, autoritária, e colonizadora do neo-liberalismo enquanto usam a concessão pública unicamente como meio de prosperarem financeiramente) e suas notícias falsas. Nenhum cidadão do país não deveria querer menos que um país soberano para todos os seus conterrâneos, para que todas as mães tenham escolas públicas de excelente qualidade para seus filhos, negros ou brancos, que a segurança pública respeite a legalidade da justiça e não atue de maneira punitivista, violenta, e burlando o processo da justiça para o qual todo cidadão é considerado inocente até que se prove o contrario. É para isso que pagamos os mais altos impostos do mundo e a grande massa de trabalhadores, de pobres, são aqueles que mais pagam estes impostos. E boa parte dessa massa é constituída de negros, tendo em vista toda a historicidade resultante da “libertação dos escravos” que jogou milhões, sem meios de sobrevivência, nas ruas, sem uma política adequada de inserção dos libertados na vida cotidiana, atitude mais que amoral e cínica, tendo em vista que foram os escravizados os principais responsáveis pela riqueza de seus antigos dominadores.

Há que preponderar a criação e a manutenção de políticas públicas neste sentido: assegurar que todos os negros e negras no país tenham direitos iguais, pois, a desigualdade é o motor que impulsiona toda essa engrenagem, de maneira perversa, injusta, cruel. E o fato de ser o racismo estrutural, não quer dizer que seja intransponível, imutável, ou invencível. A pressão sobre as autoridades governamentais tem de ser intensa e constante, mas a pressão por uma sociedade antirracista deve ser igual, de cada um, para cada um, pois está atrasada, defasada, modorrenta, doente, vazia, insuportável, sem ética, uma nação que normaliza o racismo em seu seio.

Fonte:Por Cristine Souza, do Jornal noite e dia

Silêncios e rompimentos da mulher negra

“Precisamos achar o lugar do rompimento do silêncio e compreender que pior é não falar”

Sempre fui uma criança muito silenciosa. O meu “não dizer” representou e ainda representa um grande emaranhado de questões e conflitos internos profundos. Perceber-se na falta de discurso e dizer-se em voz alta é um ato de rompimento dificultoso, que acredito que ocupa a vida de muitas mulheres negras. Nos espaços de silêncios, em algum momento, todo o “não dito” vem, se arrasta conosco e é realmente devastador como o “calado” pode sufocar profundamente, afetar seu corpo, mente e existência. 

O racismo opera em cada um de nós de formas distintas em cada espaço afetivo, interno e pessoal. A ótica racista se instala e, se o cuidado não for atento, começa a falar por nós: em nossos corpos, vozes e lugares sociais. Quando finalmente, após muita investigação, fui capaz de compreender do que se tratavam meus silêncios de mulher negra, me dei ao choro. O que é algo raro e caro para um corpo compreendido socialmente como “mulher forte”, deixar vulnerabilizar é uma lida física e emocional em que ainda escolho os lugares onde vou deixar meu choro, porque aprendi muito cedo a realidade cruel do corpo submisso no Brasil racista: saber se portar. Assim, o choro ficou travado em mim. 

Encontrei-me com escritoras negras capazes de dar nome a parte do silêncio instaurado em mim. Compreendo do que se trata: dou nomes ao que me calou e me digo em voz ciente de potência e do lugar de mulher negra que deve ser ouvida. Compreendo, ainda, que tentarão nos convencer do contrário a todo tempo. A ideologia racista de uma estrutura é capaz de nos impregnar tão completamente que nos separa de nós mesmos e nos isola em pensamentos que não nos pertencem, incorporados e normalizados na educação. A questão, dentre muitas, é identificar onde estão os seus espaços de silêncio e de que forma se tornaram amarras, bem como, de que modo nos afeta e o que podemos fazer nesse sentido, que é social e interno. 

No ensaio “A poesia não é luxo”, Audre Lorde fala sobre como a poesia é parte essencial da vida das mulheres: “ela cria o tipo de luz sob o qual as nossas esperanças e nossos sonhos de mudança, primeiro como linguagem, depois como ideia e depois como ação mais tangível. É da poesia que nos valemos para nomear o que ainda não tem nome, e que então pode ser pensado. Os horizontes mais longos das nossas esperanças e nossos medos são pavimentados pelos nossos poemas, esculpidos nas rochas que são nossas experiências recentes”. Ainda com esse ensaio nos ensina a importância do encontro com nossa ancestralidade e de que como isso nos remete a “apreciar nossos sentimentos e lidar com fontes ocultas do nosso poder”.  

Já em “A transformação do silêncio na linguagem e na ação”, o Audre Lorde conta como uma experiência de uma doença grave a fez refletir sobre sua vida e seus silêncios. Diante da iminência da morte, se deu conta de que todos os medos que carregava jamais a salvariam de um câncer. Acompanho a linguagem dessa extraordinária autora para dizer que nós, mulheres negras, nos calamos por muitos motivos: por medo “eu temia que questionar ou me manifestar de acordo com minhas crenças resultaria em dor ou morte. Mas todas somos feriadas de tantas maneiras, o tempo todo, e a dor ou se modifica ou passa. A morte, por outro lado, é o silêncio definitivo”. Audre Lorde ensina, ainda, como a transformação de silêncios em palavras é algo gradativo para que a linguagem se transforme em ação. A grande lição pessoal de transformação o silêncio em linguagem é que as palavras são poderosas e vão tomando forma fora de nós, para além de nossos imaginários amedrontados e retidos. 

Pode demorar muito tempo até a construção do falar sem medo ou pode ser que algum grau de medo nos acompanhe por toda vida, mas o fato é que assim como Lorde nos diz que “fomos ensinadas a respeitar mais o medo do que nossas necessidades de linguagem e significação” precisamos achar o lugar do rompimento do silêncio e compreender que pior é não falar. 

E quando, então, falamos em voz alta, não temos mais retorno. 

* As citações são do livro “Irmã Outsider”, de Audre Lorde. Publicado no Brasil em 2019, pela Editora Autêntica, com tradução de Stephanie Borges. 

Fonte: GELEDÉS

“Racismo Estrutural e Direitos da População Negra” é o tema de hoje (15) no programa Chame Gente

Esta edição, que faz parte da agenda do Mandato Coletivo no Julho das Pretas, será transmita ao vivo hoje (15) às 18h no instagram do Mandato

Márcia Guena – professora, jornalista e representante da Frente Negra do Velho Chico, e Fátima Silva – assistente social com especialização em Crianças e Adolescentes em situação de risco e formação em Terapia Familiar, são as convidadas do Chame Gente de hoje (15). Elas irão bater um papo sobre racismo estrutural e direitos da população negra com o vereador Gilmar Santos (PT), que apresenta o programa. Esta edição faz parte da agenda do Mandato Coletivo no Julho das Pretas: Mulheres e meninas negras importam, e será transmitida ao vivo às 18h no instagram do Mandato.

A História do Brasil é marcada por profundas violências e desigualdades que sacrificaram, principalmente, a vida e a dignidade da população negra, tendo na escravidão o seu maior fundamento. Infelizmente, os resquícios desse período ainda se fazem presentes em nossa sociedade através das mais variadas formas de racismo, discriminação, intolerância e exclusões da população negra do acesso a direitos básicos e a espaços de poder, geralmente ocupados por brancos e seguimentos da elite que mantém estruturas históricas do racismo que mata e violenta negros e negras todos os dias no nosso país (onde a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado) e no nosso município, que tem amplo histórico de violência policial contra a população negra e periférica.

Segundo o 13º Anuário da Violência, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública no ano passado (2019), 75,4% das vítimas pelas polícias brasileiras eram pessoas negras. Uma outra pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018, aponta que a população preta ou parda em Pernambuco é a população mais afetada pelo desemprego e é também a mais afetada com a pandemia do novo coronavírus; a cada três pessoas negras hospitalizadas, há uma morte por SRAG causada pelo coronavírus; já entre brancos, há uma morte a cada 4,4 hospitalizações, conforme aponta pesquisa da Agência Pública.

Frente a esses e tantos outros dados de violência e negação de direitos à população negra, entendemos como necessária e urgente a discussão sobre o assunto, visando sempre a melhoria e implantação de políticas públicas direcionadas que atuem na garantia de direitos e de combate à discriminação racial.

Você não querer perder esse debate, não é? Então anota aí!

Quando: Hoje, às 18h

Onde acompanhar? Na página do Instagram do Mandato Coletivo: @vereadorgilmarsantosoficial

Pandemia: racismo estrutural e o silêncio da imprensa

O racismo estrutural atinge frontalmente a maioria da população pobre, destinatária das consequências nefastas durante a pandemia – portanto, o debate que cruza as condições econômicas com a raça não deveria ser silenciado.

Foto: Internet

Nestes tempos de pandemia, a preocupação com a covid-19 tem feito com que vários especialistas, governantes e jornalistas discutam diariamente, na imprensa, medidas para que o sistema de saúde brasileiro não entre em colapso, visando a diminuição da propagação do vírus e políticas para amparar as famílias atingidas com o isolamento social. No caso desta demanda, não me lembro de ter presenciado tamanha preocupação com a pobreza como está sendo agora. Isso é ótimo, mas tenho ressalvas sobre a maneira pela qual estão conduzindo a discussão. Não há abordagem das questões raciais como elemento fundamental na pobreza da população, sendo que a premissa do debate deveria ser o reconhecimento de que os mais desfavorecidos, economicamente, têm a pele negra. O racismo estrutural atinge frontalmente a maioria da população pobre, destinatária das consequências nefastas durante a pandemia – portanto, o debate que cruza as condições econômicas com a raça não deveria ser silenciado.

O momento é dramático. Nesse sentido, é primordial desenvolver uma nova consciência social, carregada de olhares humanos que reconheçam as mazelas dos negros. Estamos numa situação em que nossos corpos irão ocupar a maioria das valas nos cemitérios do país. Assim sendo, é dever da imprensa amplificar a negligência do Estado no combate ao racismo estrutural, pois a omissão tem permitido a manutenção do privilégio de uma minoria branca, resultando na eliminação dos direitos dos negros. Moramos nas periferias das cidades, ausentes de condições estruturais para cumprir as orientações de higiene como pedem as autoridades de saúde neste período de isolamento social − que, por sinal, tem acarretado outras consequências. Para se ter uma ideia, álcool em gel na periferia é luxo. O racismo estrutural responde pela quantidade monumental de negros ocupando o mercado de trabalho informal, no qual somente temos renda se estivermos trabalhando. No mercado de trabalho formal, estamos na lista de potenciais demitidos com a crise instalada – isso porque somos a classe dos trabalhadores mais explorados. E cabe lembrar que, antes da pandemia, dados do IBGE apontavam que 64% dos desempregados eram negros. Imagine como serão os números depois da pandemia.

Concordamos com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e as ações promovidas pelos governos no combate à covid-19. Alertamos apenas a imprensa sobre o quanto é importante, no debate público, demonstrar que o racismo criou estruturas discriminatórias, sendo responsável por esses milhares de famintos que pedem socorro. Não basta lançar luz sobre os mais pobres e não reconhecer as raízes da opressão. A sociedade precisa tomar um choque de realidade e fazer uma autoavaliação das próprias práticas racistas. Decerto que, em algum momento, a pandemia será superada e os negros seguirão sobrevivendo com as permanentes dificuldades. Ou plantamos a semente que colocará um fim à seletividade humana em função da cor da pele ou continuaremos sendo uma sociedade que não aprende com a história.

***

Ricardo Corrêa
Via Observatório da Imprensa

Violência: Policiais Militares agridem jovens negros e vereador Gilmar Santos, do PT, durante festejos da Consciência Negra em Petrolina, PE (Veja Vídeo)

O vereador Gilmar Santos, PT, ao tentar mediar a situação foi algemado e detido junto com os jovens

Após agressão sofrida pela estudante Camila Roque, no dia 09 deste mês, outro caso de violência policial acontece no município de Petrolina. Neste domingo (24), o vereador professor Gilmar Santos (PT), a comunicadora popular da rede de comunicadores Sou Periferia e integrante da associação das Mulheres Rendeiras, Karoline Souza,  o músico Maércio José, da banda Tio Zé Bá e o poeta Fabrício Nascimento, integrante do Projeto Ser Tão Poeta e tesoureiro da Associação Brasileira de Escritores (núcleo Petrolina), foram agredidos e detidos por policiais do 2° BIESP no Céu das Águas, no bairro Rio Corrente, onde acontecia o encerramento da Mostra de Artes Novembro Negro, organizada pela Cia Biruta de Teatro.

O fato se deu por volta das 20h, quando a polícia chegou no evento fazendo abordagem violenta contra um jovem negro, acusado pela polícia de estar portando uma arma, o que não era verdade. Karoline Souza registrou a abordagem em vídeo e foi coagida e agredida pela polícia para entregar o aparelho onde as imagens foram gravadas. Ao tentar evitar a prisão da jovem, Gilmar Santos, Maércio José e Fabrício Nascimento também foram agredidos e detidos. Em seguida, foram encaminhados para a 26ª Delegacia Seccional da Polícia Civil, no bairro Ouro Preto, e só foram liberados às 5h, após prestarem depoimento. Cerca de 50 pessoas, entre artistas, representantes de movimentos sociais e sindicatos, advogados/as, jornalistas, professores/as e estudantes se dirigiram até a delegacia para prestar solidariedade.

Durante a ação, outras pessoas foram agredidas pela polícia que também aspergiu spray de pimenta e usou soqueiras, ignorando a presença de crianças no local.

O acontecimento reflete o modus operandi de uma segurança pública pautada no racismo e na intolerância, visto que todos os apreendidos são pretos (a) e estavam participando de um evento em alusão ao Novembro Negro, reforçando mais uma vez o que  apontam todos os dados de violência no Brasil: “a violência institucional tem alvo: corpos negros e periféricos”.

Segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) 2017, jovens negros são as principais vítimas de homicídios no Brasil, a cada 100 pessoas que são mortas, 71 são negras, sendo que policiais civis e militares, em serviço ou não, mataram 6.220 pessoas em 2018, uma média de 17 por dia, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgados este mês.

Além disso, a população negra é também o principal alvo do sistema carcerário. O último levantamento realizado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), em 2016, aponta que a população presa é predominantemente composta por pretos e pardos, que representam 65% do total de 812.564 pessoas.

Vítima de agressão policial, abuso de poder e racismo, o vereador Gilmar Santos tem desde o início do seu Mandato Coletivo atuando em defesa dos direitos humanos, no combate ao racismo e demais opressões, exigindo aplicação de políticas públicas voltadas para o combate ao racismo, às desigualdades e à promoção da cultura nas periferias da cidade.

Enquanto professor, o parlamentar tem ido nas escolas no município para debater política pública e racismo junto aos estudantes. Ademais, só esse mês, o edil aprovou o projeto de Lei Nº 147/2019, que institui o Novembro Negro em Petrolina e o inclui no calendário oficial da Prefeitura, e apresentou o Projeto de Lei nº 152/2019, que institui o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa no âmbito do município.

Em entrevista, Gilmar alegou que estará denunciando o comportamento da polícia e que marcará uma agenda com o governador do Pernambuco, Paulo Câmara e com o Ministério Público para tratar da situação e de todas as outras agressões da polícia no município, visto a recorrência em que situações como essa tem acontecido.

“Não nos calarão!”

Vereador Gilmar Santos e mais três militantes do Movimento Negro são detidos por reagirem a violência policial

O parlamentar foi detido por tentar defender os jovens que foram agredidos

Céu das Águas

O encerramento da Mostra de Artes Novembro Negro, com o tema: Liberdade é não ter medo de brilha, realizado neste domingo, 24, no Céu das Águas, bairro Rio Corrente, foi alvo de uma ação truculenta promovida por policiais do 2° Biesp.

O fato se deu por volta das 20h, quando a polícia chegou no evento, organizado pela Cia Biruta de Teatro, e abordou um rapaz que eles diziam ser suspeito de estar portando uma arma, porém, segundo os organizadores, a Polícia fez uma abordagem violenta e totalmente desrespeitosa.

Karol Souza, da Associação das Mulheres Rendeiras, estava filmando o momento do conflito, mas quando os policiais perceberam que estavam sendo filmados pediram seu celular da jovem, que ao negar entregar foi agredida juntamente com o músico Maércio José e o Poeta Nascimento, que estavam com ela e tentaram a proteger. Além disso, a polícia aspergiu spray de pimenta nas pessoas que estavam próximas, ignorando a presença de crianças no local.

O vereador Gilmar Santos, que estava no evento, também foi detido ao tentar proteger os demais que foram covardemente agredidos. Vários artistas estão na delegacia Ouro Preto prestando apoio aos colegas e reivindicando justiça sobre essa agressão racista.

Nota em solidariedade à estudante Camila Roque, vítima de agressão policial em Petrolina

Em defesa da vida e de uma cultura de paz, sigamos em luta, e em resistência!

É com profunda indignação e repúdio que, em pleno mês da Consciência Negra, o vereador Prof. Gilmar Santos (PT) — Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal de Petrolina — e o Mandato Coletivo, recebem a notícia da agressão policial sofrida pela companheira Camila Roque, mulher, negra, diretora da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (UESPE) e militante da União da Juventude Revolucionária (UJR). O fato ocorreu no último dia 09 desse mês, quando quatro policiais abordaram a jovens e outras duas estudantes no centro da cidade de forma abusiva e com armas em punho.

Identificando material de formação marxista na bolsa das jovens, um dos policiais desdenhou, desqualificou o material e ameaçou apreendê-lo. Camila argumentou sobre a ilegalidade da ação e sobre o direito de liberdade de pensamento e expressão, previsto na Constituição Federal. Após o abuso de autoridade e tentativa de intimidação, as jovens foram liberadas. Porém, Camila foi seguida por um dos policias, que a agrediu com um soco no rosto, a xingou de “terrorista” e a ameaçou dizendo que “Bolsonaro vai acabar com isso tudo”.

Expressamos aqui nossa solidariedade à Camila e às demais jovens diante de tamanha covardia e truculência promovida por agentes do Estado que deveriam garantir segurança à nossa sociedade. Sabemos o quanto essa ação é representativa da estrutura racista, machista, misógina, sexista, desigual e opressora que permeia a nossa história e as nossas instituições, principalmente na atual conjuntura, estimulada por lideranças políticas reacionárias e fascistas, a começar pelo próprio presidente da República.

Reafirmamos nosso compromisso de continuarmos em luta contra toda e qualquer forma de violência, e pela promoção e defesa de políticas públicas que garantam igualdade e oportunidades para as minorias mais oprimidas da nossa sociedade e, de maneira particular, às mulheres negras.

Sabendo que esse tipo de prática não deve fazer parte do comportamento da maioria dos policiais e de que há profissionais sérios e comprometidos com os direitos humanos nos órgãos de segurança pública, exigimos as devidas providências e punições para esses maus policiais.

Em defesa da vida e de uma cultura de paz, sigamos em luta, e em resistência!

Vereador Professor Gilmar Santos- PT
Mandato Coletivo

Professor Gilmar Santos ministra palestra sobre racismo em projeto sobre violência, na escola Osa Santana

“É de fundamental importância que projetos dessa natureza, voltados para reflexões e debates relacionados às violências e desigualdades que atingem principalmente a população negra no nosso país sejam tratados nas nossas escolas”

Foto: Ângela Santana

O Mandato Coletivo do vereador professor Gilmar Santos (PT) participou na manhã desta segunda-feira (19) da Gincana EREMPOSC Contra a Violência, na Escola de Referência Em Ensino Médio Professora Osa Santana de Carvalho, realizada pela Residência Pedagógica em História da UPE – projeto de iniciação a docência.

De acordo com os residentes, “as palestras desta segunda tiveram por objetivo introduzir a temática da violência no cotidiano escolar, habilitando os estudantes a identificar os diferentes tipos de violência no processo de pesquisa para a gincana”.

Foto: Ângela Santana

Na ocasião, foram debatidos temas como violência contra mulher, violência contra a pessoa idosa e os animais, e o racismo, que foi ministrado por Gilmar Santos, que também é historiador. Na oportunidade, o professor deu uma verdadeira aula de história sobre o racismo no Brasil, traçando uma linha cronológica desde a colonização até os dias atuais.

Levar tais discussões para a escola, além de fortalecer o combate às violências de todos os gêneros – para além do espaço escolar- também implica a promoção de uma cultura de paz em defesa dos direitos humanos e de uma sociedade mais igualitária.

Foto: Ângela Santana

Para Santos, “é de fundamental importância que projetos dessa natureza, voltados para reflexões e debates relacionados às violências e desigualdades que atingem principalmente a população negra no nosso país sejam tratados nas nossas escolas. Compartilhar dessa atividade com as escolas Osa Santana e Humberto Soares evidencia o compromisso dos educadores em transformar a escola enquanto espaço de empoderamento e maior consciência dos nossos educandos em relação ao papel da educação para a superação dessa problemática. Ficamos muito felizes pelo convite e aproveitamos para parabenizar a gestão, os professores/as e aos estudantes pelo envolvimento nesse importante projeto”.

Nota em solidariedade ao professor Judson Medeiros, vítima de racismo no São João de Petrolina

Imagem Divulgação

Toda nossa solidariedade ao professor Judson Medeiros Alves, que foi covardemente agredido por seguranças da empresa GMSP no São João de Petrolina.

Nós, educadores, estudantes, parlamentares, movimentos sociais e antirracistas de Petrolina, Juazeiro, Santa Maria da Boa Vista e região sanfranciscana, viemos repudiar, veementemente, a violência sofrida por Judson Medeiros, negro, professor, cidadão que serve ao município de Petrolina no Instituto Federal do Sertão (IF-Sertão), que foi abordado de forma truculenta, antiprofissional, desproporcional e explicitamente orientada pela cultura e estruturas racistas ainda tão arraigadas nas instituições públicas e privadas do nosso país.

Na ocasião o professor teve o braço deslocado e sofreu diversos hematomas pelo corpo, além do trauma psicológico.

O racismo tem-se operado estruturalmente em nossa sociedade brasileira, ele se faz nas mais diversas dimensões de nossa existência; manifesta-se, cotidianamente, nas múltiplas violências sofridas por homens e mulheres negras, especialmente os mais empobrecidos, habitantes de periferias. Trata-se de um sistema de opressão epistêmico e sistêmico que agride as consciências e corpos negros.

Chamamos a atenção para que não se constate ainda mais essa triste realidade, a partir dessa violência sofrida pelo professor Judson, de que os riscos de violência para os cidadãos mais pobres, principalmente negros e negras, se elevam quando se observa que servidores e organizadores da festa são os primeiros a promoverem violações e violências.

Em defesa de uma festa construída democraticamente,  com inclusão, respeito à diversidade e dignidade de todxs aquelxs que constroem Petrolina e toda a região sanfranciscana, repudiamos a violência racial sofrida pelo professor Judson Medeiros e nos solidarizamos a ele e a todxs que sofreram ou sofrem igual discriminação.

Lembramos que racismo é crime e que as providências jurídicas sobre o caso já foram tomadas. Esperamos que a gestão municipal, se tiver alguma dignidade, oriente pelo afastamento imediato desses seguranças, divulgue o fato ao público durante o evento e manifeste seu repúdio em nota pública, assim como fazemos nesse manifesto.

VIDAS NEGRAS IMPORTAM! PROFESSOR JUDSON E TODXS QUE DE ALGUMA FORMA SOFRERAM DISCRIMINAÇÃO NO SÃO JOÃO DE PETROLINA RECEBAM NOSSA SOLIDARIEDADE

Assinam essa nota:

Mandato Coletivo (Vereador Gilmar Santos-PT)

Nilton de Almeida Araújo (Univasf; Movimentos Antirracistas do Vale)

Marília Arraes (Deputada Federal – PT)

Maércio José (músico e pedagogo)

Sônia Ribeiro (Mulher de terreiro,  Militante da luta anti racista de mulheres e homens negras/os)

Diedson Alves (Professor da rede pública e privada)

Cristina Costa (vereadora do PT)

Zezinho de Mindú (Presidente do Recanto Madre Paulina)

Paulo Valgueiro (relator da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Petrolina)

João Alves do Nascimento Júnior (Professor Universitário)

Simão Pedro dos Santos (professor Adjunto – Universidade de Pernambuco UPE Campus Petrolina)

Moisés Almeida (Vice-presidente da Adupe)

Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida (Professor universitário)

Antônio Carvalho dos Santos Júnior (Professor)

Angela Coêlho de Santana (mulher negra, feminista, radialista e blogueira)

Isabel Angelim  (Assistente Social)

Camila Rodrigues (atriz e produtora cultural)

Cristiane Crispim ( atriz e professora da rede estadual)

Juliene Moura (atriz e estudante de Artes Visuais)

Antônio Veronaldo (Diretor teatral e arte educador )

Mirele de Macedo Castro (estudante da UPE campus Petrolina)

Saulo Mororó (Advogado)

Maria Gildenir dos Santos –  Coletivo aurora (Aarhus – DK)

Fernando Pereira (Professor e Artista  Visual)

Dra. Cheila Bedor (Professora da Univasf)

Ângela Oliveira (Associação das Mulheres Rendeiras)

Karoline Souza  (Sou Periferia)

Maria Brito Castro (Sou Periferia)

Wanderson Antunes Pereira (Sou Periferia)

Hyarlla Wany (Jornalista)

Lizandra Martins (Fotógrafa)

Inês Regina Barbosa (Professora Universitária)

União de Negras e Negros Pela Igualdade- UNEGRO ( Juazeiro/BA)

Karina Leonardo (Assistente Social)

Movimentos Antirracistas do Vale

Ruth de Souza (Núcleo de Estudos Étnicos e Afro-Brasileiros Abdias Nascimento)

ETC- Observatório de Estudos em Educação, Trabalho e Cultura

Luise Maria Souza (Odontóloga)

MAV- Movimento de

Ramon Messias Moreira (Professor Adjunto da Univasf)

Márcia Medeiros de Araújo (Professora Universitária)

Paulo Pereira (Professor da Univasf)

Grupo de Capoeira Angola do Vale