Para juristas, não se deve esperar coerência do STF em relação a Lula

Recente decisão contra prisão em 2ª instância pode não beneficiar ex-presidente, cujo caso é mais político que jurídico

Plenário do Supremo Tribunal Federal durante sessão da corte / Carlos Moura | STF

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu a um réu condenado em segunda instância o direito de permanecer em liberdade até o trânsito em julgado do processo, ou seja, até o fim de todos os recursos possíveis. A decisão ocorreu nesta semana em um pedido de habeas corpus. 

No caso, a decisão de primeira instância permitiu que o acusado recorresse em liberdade. Após a condenação ter sido reiterada no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a Vara de Execuções Penais determinou o início do cumprimento de pena, conforme a atual posição da maioria do Supremo. 

A Segunda Turma se dividiu. Edson Fachin e Cármen Lúcia, tradicionalmente alinhados às posições defendidas pela Lava Jato, votaram contra, afirmando que a jurisprudência do Supremo permite a prisão após condenação em segunda instância. Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes se valeram da decisão de primeira instância para julgar a prisão sem fundamento jurídico. 

Com o empate, prevaleceu a posição mais benéfica ao réu. Juristas ouvidos pelo Brasil de Fato apontam esse fator como um primeiro elemento de cautela em relação ao otimismo que o caso pode trazer em relação ao tema. Isso porque falta conhecer a posição de um quinto ministro, Celso de Mello, que integra a Segunda Turma e não votou porque estava ausente na hora da decisão. 

Sérgio Graziano, advogado e pós-doutor em Direito, qualifica a decisão como “muito importante”, por ter restaurado o disposto pela Constituição em um caso específico. Mas entende que, apesar do desgaste da Lava Jato e de posições mais “punitivistas”, o STF ainda se encontra em um momento de avaliar “casuisticamente” cada processo. 

“Como a gente não tem uma noção exata do que está passando na cabeça de cada um, esse debate é essencialmente político. Não há um conteúdo estritamente jurídico. Eles estão encaminhando a ideia de que no caso concreto se decide se vai ou não ser preso”, diz. 

A recente anulação da condenação de Aldemir Bendine, cita Graziano, é exemplar: a ministra Cármen Lúcia fez explicitamente menção ao fato de que a interpretação pela anulação se aplicava somente ao caso do ex-presidente do Banco do Brasil.

Rogerio Dultra, professor de Direito da UFF, lembra que diversos acadêmicos já apontam a ausência de coerência jurídica nas decisões da Corte. Ou melhor, na existência de uma “coerência político-ideológica”, em detrimento de um rigor jurídico.

É por essa razão que são pequenas suas esperanças de que o texto constitucional seja restabelecido em definitivo, o que implicaria a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso após a segunda instância. 

“O fato do STF ter sucumbido aos meios de comunicação de massa faz com que vá com a maré. Hoje, em qualquer decisão sobre prisão em segunda instância, não há relação como caso do ex-presidente Lula. O caso de Lula é uma demanda política dos meios de comunicação de massa e parte expressiva do poder econômico. O STF não vai julgar contra esses interesses”, critica. 

Em sua opinião, apenas uma profunda mudança na opinião pública, “movendo placas tectônicas”, permitiria que o Supremo retornasse a uma posição geral pautada na Constituição sobre prisão após condenação em segunda instância. 

Originalmente marcada para o primeiro semestre de 2019, o debate em torno das ações que pedem que o Código de Processo Penal e a Constituição voltem a ter validade neste tema foi adiado sem data definida para voltar a ocorrer. 

Fonte: Brasil de Fato| Texto: Rafael Tatemoto | Edição: João Paulo Soares

DesMOROnou: Conversas entre Moro e Dallagnol escancaram função política da Lava Jato

O conteúdo, divulgado pelo The Intercept Brasil, revela trama para impedir vitória do PT nas eleições, assim como interferências de Moro no Ministério Público para acusar Lula

Foto: Divulgação

A agência de notícias The Intercept Brasil divulgou neste domingo, 09 de junho, três reportagens polêmicas que revelam “discussões internas e atitudes altamente controversas, politizadas e legalmente duvidosas da força-tarefa da Lava Jato” entre o procurador que coordenou as investigações, Deltan Dallagnol, e o atual ministro da justiça, Sergio Moro.

Segundo o Intercept, as três matérias, que são apenas o começo de uma grande investigação jornalística, foram produzidas a partir de “arquivos enormes e inéditos – incluindo mensagens privadas, gravações em áudio, vídeos, fotos, documentos judiciais e outros itens – enviados por uma fonte anônima”.

Além de revelarem comportamentos antiéticos e transgressões dos envolvidos, as reportagens explicam algumas consequências das ações da Lava Jato como, por exemplo, a prisão do ex-presidente Lula que “uma vez sentenciado por Sergio Moro, teve sua condenação rapidamente confirmada em segunda instância, o tornando inelegível no momento em que todas as pesquisas mostravam que liderava a corrida eleitoral de 2018”, o que escancara o jogo de interesses políticos: Moro frauda o sistema de justiça para condenar Lula e manipular eleição abrindo caminhos para a eleição de Bolsonaro, que logo nomeou o então juiz Sergio Moro, Ministro da Justiça.

Entre outros elementos, as reportagens revelam o desejo dos procuradores da Lava Jato em impedir a eleição do PT, bem como suas ações para atingir esse objetivo; e as interferências secretas e antiéticas de Moro ao Ministério Público para acusar Lula, ferindo o principio de imparcialidade previsto na Constituição e no Código de Ética da Magistratura.

Em nota, Moro disse que “lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores”. O que o ministro esqueceu foi que em 2016 ele mesmo se pronunciou dizendo “a democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras” ao vazar ilegalmente grampo dos ex-presidentes Lula e Dilma.  

O Intercept afirmou que não procurou os envolvidos antes das publicações “para evitar que eles atuassem para impedir sua publicação e porque os documentos falam por si”. Além disso, em matéria a agência disse que “Nós tomamos medidas para garantir a segurança deste acervo fora do Brasil, para que vários jornalistas possam acessá-lo, assegurando que nenhuma autoridade de qualquer país tenha a capacidade de impedir a publicação dessas informações”.

As máscaras dos “defensores da justiça”, “heróis anticorrupção” começam a cair, deixando às vistas da população brasileira as teias de reais interesses que fundamentam o plano do (des) governo Bolsonaro- que vem legislando em causa própria.  Segundo o Intercept, esse é apenas um começo do que se pretende tornar uma investigação jornalística contínua das ações de Moro, de Dallagnol e da força-tarefa da Lava Jato.

Leia matérias na íntegra:

Parte 1: Como e porque o Intercept está pulicando chats privados sobre Lava Jato e Sergio Moro

Parte 2: Procuradores da Lava Jato tramaram em segredo para impedir entrevista de Lula antes das eleições por medo de que ajudasse a “eleger o Haddad”

Parte 3: Deltan Dallagnol duvidava das provas contra Lula e de proprina da Petrobras horas antes da denúncia do triplex

Papa escreve a Lula: “A verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”

Líder religioso se solidariza pelas “duras provas” pela qual Lula tem passado; leia mensagem na íntegra

Foto: Divulgação

O Papa Francisco, autoridade máxima da Igreja Católica, enviou neste mês uma carta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No documento, em resposta à uma carta de Lula enviada em 29 de março, o pontífice se solidariza com ex-presidente, que, segundo ele, tem passado por “duras provas” com a morte de sua esposa, Marisa Letícia, de seu irmão, Genival Inácio, e de seu neto, Arthur.

“A sua Páscoa, sua passagem da morte à vida, é também a nossa páscoa: graças a Ele, podemos passar da escuridão para a Luz; das escravidões deste mundo para a liberdade da Terra prometida; do pecado que nos separa de Deus e dos irmãos para a amizade que nos une a Ele; da incredulidade e do desespero para a alegria serena e profunda de quem acredita que, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”, diz a missiva.

O líder religioso também lhe deseja ânimo e confiança em Deus, além de pedir que Lula siga rezando por ele e diz que acredita, assim como seus antecessores, que “a política pode se tornar uma forma eminente de caridade se for implementada no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas”.

A carta:



Fonte: Brasil de Fato

“Sem garantia de direitos não há o que comemorar”

Quarta-feira, 1º de maio, é dia do trabalhador, mas para o vereador professor Gilmar Santos (PT) não há o que comemorar quando os trabalhadores tem seus direitos negados

Foto: Hyarlla Wany

Quarta-feira (01/05) é comemorado o Dia Mundial do Trabalhor e o vereador professor Gilmar Santos (PT) aproveitou sua fala na tribuna durante a sessão plenária dessa terça (30/04) para dar uma verdadeira “aula de história” a respeito do que chamamos hoje de “trabalho”.

O parlamentar começou apresentando a origem da palavra, que vem do latim tripalium e significa castigo. “‘Tripalium’ era um instrumento de três madeiras fincadas ao chão utilizadas para torturar escravos na antiga Roma (…) o trabalho que lá no ínicio, na origem da humanidade era uma atividade de realização (…) foi se transformando em uma atividade de exploração (…). As sociedades romanas, gregas, assim como diversas sociedades passaram a utilizar a escravidão como meio de garantia de privilégios para a minoria de uma elite que enriquecia através da exploração da grande massa de trabalhadores” disse.

Dada essa informação o parlamentar comparou o que seria o “tripalium” às propostas do “desgoverno” Bolsonaro, como por exemplo, a PEC 06/2019 que dispõe de uma reforma da previdência que sacrifica a classe trabalhadora; a extinção do Ministério do Trabalho através da MP 870- que surge como uma forma de fragilizar os direitos trabalhistas- entre outras medidas que atacam os direitos e a vida dos trabalhadores brasileiros. Além disso, falou sobre os retrocessos advindos da lei da terceirização e da Reforma trabalhista de 2017.

“Nós tivemos de 2017 para 2018 todo o processo de implementação da terceirização no país, e o que significa essa lei da terceirização? Significa dizer que os terceirizados trabalham 30% mais do que aqueles não terceirizados e ganham 30% menos (…). O discurso dos congressistas que votaram pela lei da terceirização era de que facilitando as regras para as empresas, os empresários iriam aumentar 12 milhões de emprego no nosso país. Passaram se aí mais de um ano e nós não temos nenhum sinal de aumento de emprego, muito pelo contrário, nós temos sinal de desemprego” disse e continuou  “Um outro exemplo é a reforma trabalhista, ou melhor, a “contrarreforma” trabalhista (…) Os empresários diziam que era para modernização, repito, a reforma trabalhista veio para a escravização”.

Na oportunidade, o parlamentar lembrou as conquistas da classe trabalhadora durante o governo Vargas destacando a CLT (Consolidação das Leis de Trabalho). Lembrou também do governo João Goulart com as propostas de proteção social expressas nas reformas de base; e dos Governos Lula e Dilma, com as políticas de valorização do salário mínimo e de geração de emprego.

Segundo uma pesquisa do (antigo) Ministério do Trabalho, mais de 20 milhões de empregos foram gerados durante os governos petistas. No governo Lula (2003-2010) 15,384 milhões de vagas foram abertas, nos três primeiros anos da gestão de Dilma foram 4,880 milhões, somando um total de 20,264 milhões de empregos formais.

“Nós tivemos uma “era” de emprego onde as pessoas tinham a possibilidade de ter sua carteira assinada e de ter direitos sociais protegidos, agora tudo isso está sendo destruído” Afirmou o edil.

Para Gilmar, o atual governo não tem compromisso com a população, principalmente com os mais pobres, e que por essa razão todos os governos que defendiam os direitos do povo sofreram golpe. “Eles derrubam Dilma,
prendem lula, para em seguida atacar a classe dos trabalhadores” indagou.

Diante de tantos retrocessos e ataques aos trabalhadores, o parlamentar disse que não existem motivos para se comemorar o 1º de maio, mas sim motivos para lutar.

“Nós temos motivos para comemorar o dia do trabalhador? Não! Sem garantia de direitos não há o que comemorar, mas para lutar, e muito” concluiu.

Lula é absolvido de acusação de obstrução de Justiça

Juiz que o inocentou havia mandado suspender as atividades do Instituto Lula em 2017.

Foto: AFP – A acusação surgiu após a colaboração premiada de Delcídio do Amaral

A Justiça do Distrito Federal absolveu, nesta quinta-feira 12, o ex-presidente Lula da acusação de obstrução de Justiça. Também foram inocentados o ex-senador Delcídio do Amaral, o banqueiro André Esteves, o pecuarista José Carlos Bumlai e seu filho, Maurício Bumlai da mesma denúncia.

Na sentença, o juiz substituto Ricardo Augusto Soares Leite, da 10º Vara Federal de Brasília, afirma que “há deficiência probatória para sustentar qualquer juízo penal reprovável”. Parte dos indícios contra Lula vieram da colaboração premiada de Delcídio com a Justiça.

O ex-presidente foi acusado de obstrução de Justiça durante a delação de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras. Lula era acusado de integrar um grupo para comprar o silêncio de Cerveró.

Em abril de 2017, Ricardo Leite ordenou a suspensão das atividades do Instituto Lula, por suspeita de as instalações do local terem sido utllizadas para a prática de crimes. A decisão foi tomada justamente no âmbito da acusação de obstrução de Justiça contra Lula.

Em nota, Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, afirma que a defesa do ex-presidente “sempre demonstrou que a acusação se baseou em versão criada por Delcídio do Amaral para obter benefícios em acordo firmado com o Ministério Público Federal.” O advogado lembra que, em suas alegações finais, o MPF também pediu a absolvição do petista.

“Durante o processo, Cerveró, assim como as demais testemunhas ouvidas — de acusação e defesa —, jamais confirmaram qualquer participação de Lula em atos objetivando interferir na delação premiada do ex-diretor da petrolífera”, diz o defensor.

Zanin afimra que A sentença em favor de Lula nesta data “evidencia ainda mais o caráter ilegítimo das decisões que o condenaram no caso do tríplex”. “Enquanto o juiz de Brasília, de forma imparcial, negou valor probatório à delação premiada de Delcídio do Amaral por ausência de elementos de corroboração, o juiz de Curitiba deu valor absoluto ao depoimento de um corréu e delator informal para condenar Lula”, diz o advogado.

“Espera-se que a Justiça também prevaleça no caso do tríplex, para restabelecer a liberdade plena de Lula e também para reverter a decisão condenatória lá proferida com base unicamente em depoimento de corréu interessado em fechar acordo com o Ministério Público Federal em busca de benefícios”, conclui Zanin.

http://www.cartacapital.com.br