Ativistas do movimento negro e LGBTQIAPN+ são homenageadas pelo Professor Gilmar em sessão solene pelo Dia Internacional da Mulher

“Esperamos que Petrolina evolua cada vez mais, no sentido da busca pela igualdade e valorização nas lutas feministas”, disse o vereador Gilmar Santos

Professor Gilmar homenageia a Ialorixá Ya Niraodô e a pedagoga Ana Vera

Com objetivo de homenagear e destacar a importância feminina na construção da sociedade petrolinense, a Câmara Municipal de Petrolina realizou uma Sessão Solene em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, nesta quinta-feira (07). A sessão homenageou 37 mulheres com a Comenda de Honra ao Mérito, como reconhecimento pelos relevantes serviços prestados ao município. A homenagem do vereador Gilmar Santos-PT mostrou seu comprometimento com a diversidade e o papel que ela desempenha na defesa dos direitos das mulheres.

Entre as mulheres homenageadas pelo professor Gilmar está Vaníria Brandão, Ya Niraodô, ialorixá do Ilê Oya Oka Sultão das Matas. O Ilê Oya Oka Sultão das Matas é uma casa de umbanda e candomblé localizada em Petrolina, bairro C1 – Burrinho, no Projeto Nilo Coelho, que segue o caminho do axé mantendo as duas pertenças ancestrais, que acompanha a família da mãe de santo. 

Professor Gilmar entrega Comenda de Honra ao Mérito pelo Dia Internacional da Mulher para Ya Niraodô (Mãe Vaníria)

A pedagoga Ana Vera Rodrigues de Araújo, “mãelitante” pela causa LGBT+, integrante da Coordenação Estadual de Pernambuco da Associação Mães da Resistência que compõe hoje o Conselho Nacional dos Direitos das pessoas LGBTQIA+ e voluntária na Casa Cores, também foi homenageada.

Professor Gilmar entrega comenda de Honra ao Mérito pelo dia Internacional da Mulher para Ana Vera

Na ocasião, as homenageadas do parlamentar receberam, além do certificado de Comenda de Honra ao Mérito ao Dia Internacional da Mulher, a escultura Zaia, carranca de peito que espanta o machismo e a misoginia com o poder da representatividade feminina, da artista Carina Lacerda.

O vereador Gilmar Santos reforça a importância que as mulheres têm, em especial as que lutam em favor da diversidade, da democracia, dos direitos humanos, da igualdade e da liberdade religiosa.

“Devemos renovar a nossa determinação na luta pelos direitos das mulheres não apenas no mês de março, mas durante todo o ano, assim como reconhecer a necessidade de lutarmos por um mundo onde tenham mais oportunidades e possam ocupar mais espaços. Esperamos que Petrolina evolua cada vez mais, no sentido da busca pela igualdade e valorização nas lutas feministas”, disse o vereador Gilmar Santos, disse. 

A sessão completa, com as homenagens, pode ser conferida na íntegra pelo canal do YouTube da Câmara. 

Por Victória Santana (ACS/Mandato Coletivo)

Prefeito Miguel Coelho sanciona Lei que proíbe abordagem sobre questões de gênero e diversidade na formação escolar

 

Prefeito Miguel Coelho ao lado do autor da Lei, 2.985/17, Elias Jardim. Foto: Pedro Caldas Filho (Facebook)

Grupos que detêm o poder majoritário na política e na mídia se articulam em uma contraofensiva conservadora que visa atacar os poucos avanços na sociedade contemporânea em relação às pautas de mulheres e LGBT’s, avanços esses conquistados às duras e muitas vezes sangrentas batalhas. Em Petrolina, infelizmente, não tem sido diferente. O projeto de Lei do Vereador Elias Jardim aprovado na Câmara Municipal no dia 8 de dezembro do ano passado, foi sancionado pelo prefeito no dia 19 do mesmo mês. O “Novo Tempo” do prefeito Miguel Coelho segue o fluxo do retrocesso desses tempos sombrios.

Leia na íntegra: lei 2.985.17 Genero nas escolas Elias Jardim

Alinhado com a agenda conservadora que ocupa o poder legislativo dando sustentação ao golpe e à agenda de retrocessos no país como um todo, o prefeito ignorou o pedido de #VetaPrefeitoMiguelCoelho de uma significativa parcela da sociedade atendida pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos, que ele mesmo criou no início de sua gestão e tornou Lei um projeto pautado no uso de um conceito inexistente, o da “ideologia de gênero” e que, na verdade, censura o debate e ensino em sala de aula das escolas municipais em torno das questões de gênero, debate importante para superação de violências históricas contra as mulheres e a população LGBT, gerando um clima de patrulha ideológica ao ofício do professor.

Saiba mais sobre a invenção do conceito de ideologia de gênero

A Lei 2.985/17 foi sancionada e está em vigor desde o dia 19 de dezembro em Petrolina, mesmo depois do STF já ter se posicionado em relação a leis desse tipo em outros municípios, a exemplo de uma semelhante feita em Paranaguá (PR) suspensa pelo ministro Luís Barroso pela sua inconstitucionalidade e comprometimento da educação de crianças em sua proteção integral, uma vez que a impede de ter conhecimento sobre “questões pertinentes à vida íntima e social”. O prefeito Miguel Coelho escolhe o lado do obscurantismo quando concorda com uma Lei que censura professores e educadores a tratar de uma questão, e não uma ideologia, tão importante para o exercício da igualdade de gênero e da tolerância e respeito à diversidade.

Em um país onde uma mulher é violentada a cada 11 minutos, 3 de cada 5 mulheres já sofreram agressões em relacionamentos e onde mais se mata LGBT’s no mundo, um a cada 20 horas, discutir gênero nas escolas é uma necessidade que pode tornar efetivo o compromisso da educação com a vida, com a justiça, com as liberdades individuais e com a cultura de paz. Negar-se a ele, ou pior, proibir esse compromisso por parte do educador que deve ofertar o conhecimento acerca do que está na fundamentação desses problemas é uma outra violência, a violência da invisibilidade que não mata diretamente, mas deixa morrer.

Ascom

Gabinete do vereador Prof. Gilmar Santos

 

Saravá das Crianças

Por Jaqueline Santos

Significativa e expressiva manifestação sociocultural negra, o candomblé é palco de vários estudos, uma manifestação da fé e do divino que nasce da resistência preta no Brasil e se mantém até hoje também com muita fé e perseverança.

Segundo dados da Associação Espírita e de Cultos Afro-brasileiro, fundada em 17 de dezembro de 2007, Petrolina e Juazeiro, possuem mais de 400 terreiros envolvendo Candomblé, Umbanda, tendas, casas brancas, casas de sessão, centros espíritas de orientação umbandista, mesas brancas, casas de orações, entre outras.

Dentre esses tantos ylês, o Bandalecongo, nome do barracão da nação Angolana, quer dizer “Terreiro de Angola”. O Orixá da casa é Tempo. Situado no bairro Palmares I na periferia de Juazeiro, Bahia, que foi fundado em 2000 por Tempo Zará Lenbúracinguê de Umzambe, mais conhecida como Mãe Maria de Tempo, que em 2004 se tornou Ialorixá (uma sacerdotisa e chefe de um terreiro de Candomblé).

No Bandalecongo, Mãe Maria de tempo tem como base, os filhos e filhas biológicas para contribuir na organização das festas e ritualista, mas também conta com filhos e filhas de axé. O filho biológico de Mãe Maria, Naian dos Santos Pereira, iniciado com sete anos de idade, Ogam Mirim de Ogum, conta ter sentido vergonha de compartilhar com os colegas da escola o processo pelo qual estava passando. “Eu tinha vergonha, por que os meninos ficavam ‘zuando’ o cara”. Segundo Naian, a escola que ele estudava promoveu uma atividade em sala para falar sobre as religiões de matriz africana, o que contribuiu para ele se sentir mais seguro e diminuir a vergonha e desconforto.

Foto: Arquivo pessoal

A Ialorixá e mãe biológica de Naian, a mãe Maria de Tempo, relatou os problemas enfrentados no processo de iniciação. Onde o conselho tutelar foi acionado para questionar as ausências dele na escola e a inserção dele na religião. “Graças à diretora que era muito compreensiva e aberta, ela ajudou muito, conversou com os professores, fez atividade na escola e me ajudou a proceder juridicamente para defender a tradição da família. Graças a ela e a Makota Ioná, minha neta já não precisou passar pelas mesmas coisas que passamos com Naian”, afirma Maria de Tempo.

Filha de Iansã, se iniciou aos 06 anos de idade, “eu não tenho vergonha, eu acho tudo lindo, eu gosto da festa, de dançar aqui com minha família” relata Kerlen Victória dos Santos Pereira. Nascida e criada dentro do candomblé, neta da Ialorixá Maria de tempo, cresceu vendo a família cuidar da tradição. O pai Alabê, Ogam que comanda os outros Ogans além de cantar o xirê e a mãe é Kota do terreiro da nação Ketu e tem o cargo de Ya Jibonã, que é a mãe que cria os/as Yaos no roncó (camarinha), além do irmão mais novo que já dança e vibra ao som dos atabaques. Victória se diz feliz por poder participar, vestir as roupas, dançar, cantar e viver isso com a família unida.

Foto: Arquivo pessoal

As marcas da colonização podem ser vistas a distância, pois a educação pública nasceu da catequese jesuíta e essa forma de educar se mantém até hoje. É lamentável que alguns grupos ainda precisem esconder sua fé para evitar casos de violência física, pessoas de axé são apedrejadas, hostilizadas, marginalizadas e expostas.

Para as crianças e adolescentes, a escola é o ambiente mais cruel do preconceito, que parte dos alunos e também de professores. Os professores confundem o público com privado, esquecem que a escola é Laica e não são raras situações de abuso e violência com outras formas de acreditar e exercer a fé que é privada, se mistura com o espaço público da escola.

É preciso falar sobre intolerância religiosa, é preciso falar sobre liberdade, diversidade e racismo e dessa forma, tentar construir um convívio social equilibrado e livre de preconceitos e violências. As crianças precisam ser incentivadas a lidar com a diversidade que existe entre as pessoas, não só na fé, mas na vida, por elas representarem a continuidade, por isso são consideradas a maior riqueza dos grupos e tribos. Eis que é daí que vem a permanência, é daí que vem o futuro e a certeza de que a ancestralidade será mantida, não esquecida e celebrada.

Salve as Crianças! Saravá as Crianças!

 

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